África e Africanidades: Recket ou filosofia
REKHET OU FILOSOFIA: ESTÉTICA
E LEGADO AFRICANO AO MUNDO DIASPÓRICO
Alves, Ivonete Aparecida.
Mocambo APNs Nzinga; PPGE da FCT/UNESP de Presidente
Prudente - CAPES
PAIVA, Agnaldo. Júlio de
Mocambo APNs Nzinga;
Professor de Filosofia da Secretaria Estadual de Educação do Estado de São
Paulo
6. Biopolítica, ética e diferença na educação
RESUMO
Este ensaio objetiva discutir as
possíveis incursões da rekhet; termo egípcio
que circunscreve o significado de ciência, sabedoria e filosofia; e algumas
causas do desconhecimento ou boicote das escolas ocidentais que negam à África
as origens do pensamento organizado. Este fato, no nosso entender, legitima os
processos racistas e dificulta as lutas antirracistas que têm pautado as
mudanças e permanências na educação nos últimos anos. Contra o racismo e a
hierarquização cultural o quilombismo se instaura como lócus privilegiado de negociação a favor da vida.
Palavras-chave: Rekhet ou filosofia africana; diáspora
africana; educação antirracista.
REKHET O FILOSOFÍA: ESTÉTICA Y LEGADO AFRICANO HASTA EL MUNDO
DIASPÓRICO
6. Biopolítica, la ética y la
diferencia en la educación
RESUMEN
Este artículo busca discutir las
posibles incursiones de rekhet; término egipcio que circunscreve el significado
de la ciencia, la sabiduría y la filosofía; y algunas de las causas de la
ignorancia o de boicot por parte las escuelas occidentales que niegan a los
orígenes africanos el pensamiento organizado. Esto, a nuestro juicio, legitima
los procesos racistas y dificulta las luchas antirracistas que han guiado a los
cambios y continuidades en la educación en los últimos años. Contra el racismo
y la jerarquía cultural el quilombismo se establece como un lócus privilegiado de negociación a
favor de la vida.
Palabras clave: Rekhet o
filosofía africana; diáspora africana; educación antirracista.
APRESENTAÇÃO
Este artigo foi escrito entre os anos 2014 e 2015 para um evento que
ocorreu na FCT/UNESP – Faculdade de Ciências e Filosofia da Universidade
Estadual Paulista. Trata-se do VI
Simpósio em Educação e Filosofia que aconteceu de 08 a 11 de setembro de 2015.
O fato é importante porque desde este período que as pesquisas sobre o legado
africano puderam ser intensificadas com a publicação de muitos outros materiais
que vieram colaborar para um arsenal de conhecimentos viessem para as
publicações em português.
Obras de Cheikh Anta Diop foram traduzidas em grupos de pesquisas que tomaram
em suas mãos a tarefa. A Coleção Sankofa já publicada, após 13 anos, em 2008
começa a ser reeditada. A primeira edição desta coleção foi publicada pela
Secretaria Extraordinária de Defesa e Promoção das Populações Afro-Brasileiras
– SEAFRO pelo Estado do Rio de Janeiro, dentro de uma proposta maior quer
distribuiu livros para as escolas da rede estadual de ensino.
A reedição ficou a cargo Da Editora Selo Negro e contou com quatro
volumes: A Matriz Africana no mundo;
Cultura em movimento: matrizes africanas e ativismo negro no Brasil; Guerreiras
de natureza: mulher negra, religiosidade e ambiente e Afrocentricidade: uma
abordagem epistemológica inovadora. A difusão destes e outros livros que
discutem a afrocentridade e a valorização ca cultura afro-brasileira e
africana, respaldada em legislações como a Lei 10.639/2003 (que tornou
obrigatório o ensino de História da África e da Cultura Afro-brasileira no
currículo escolar) ainda não reverberaram de forma eficiente em todos os níveis
de ensino e assim, com um bloqueio construído através de séculos de uma
educação propositalmente racista as identidades negras continuam sendo
esfaceladas dentro de um processo oficial que não educa negres, só faz aumentar
o fosso das diferenças de oportunidades de desenvolvimento das comunidades
negras.
Por estas razões intelectuais negres assumiram os postos de protagonismos
nos estudos africana e daí em diante, as instituições têm recebido uma pressão
de dentro para incluir conteúdos que consigam arrebentar com a hegemonia da
branquitude e seus lugares de privilégio. Escritos antes inconcebíveis de serem
verbalizados estão disponíveis para quem puder estudar. Professores e
professoras imbuídos na busca das verdades históricas foram revisar suas teses,
seus artigos e suas formas de lidar com uma juventude crítica e falante. Várias
manifestações, passeatas, encontros e eventos presenciais e virtuais foram
aglutinando militantes improváveis, inclusive com diferenças conceituais
conflitantes. Algumas causas precisam de massa na pressão. Muitas monografias,
dissertações e teses foram em busca de temas que até então, não tinham
orientações disponíveis. E o conflito aumentou. A incapacidade epistemológica
de muita gente com os títulos de doutorado ficou flagrante. Como orientar o que
nunca quiseram estudar? Aprendendo com quem veio depois.
Finalmente os Coletivos Negros intra-acadêmico construíram locus de
estudo e trabalho para fazer o que muitos grupos de pesquisa, com financiamento
públçco não fizeram, aboletados em seus lugares de privilégio. As Mais Velhas e
os Mais Velhos; Agbás, Yalodés, Babalorixas e Yalorixás forampara as ruas,
entraram nas universidades, voltaram a estudar e de “objetos de pesquisa” passaram a coordenar discussões que as
Universidades olviram realizar, mesmo aquelas que construíram oficialmente sues
Núcleos especializados em História da África e estudos Afro-Asiáticos.
E a história avançou, como nunca antes neste país.
INTRODUÇÃO
Devemos admitir que fizemos um acordo produtivo para escrevermos este
trabalho. O “eu-mulher”, feminista antes, mulherista depois,
“pau-pra-toda-obra, dominadora, barulhenta e ativa e o “eu-masculino”,
filósofo, amável e às vezes birrento. O acordo vai além do relacionamento
acadêmico porque temos um Programa de Ações, que vigoram no Mocambo Nzinga como
um-lugar-de-vida-plena; comunidade inserida na periferia de Presidente Prudente/SP,
onde trabalhamos e acolhemos as crianças do entorno. Comunidade que soube reivindicar
seu direito à arte, à cultura e também de estar junto, até mesmo sentados no
chão, onde ainda há chão de terra viva para sentar na sombra e ficar pensando.
Pensar é uma atividade (até onde sabemos) exclusivamente humana. Certo?
Não? Acaso há alguém conhecido, filmado, que deixou escritos aqui na terra e
que pudesse escrever, falar, contar histórias, enterrar seus mortos em covas ou
mesmo carregar seus ossos em urnas (ou relicários) e que não fosse gente?
Elefantes “choram” mesmo seus mortos ou somos nós que imputamos aos elefantes a
capacidade de chorar seus mortos?
Parece que não foi somente na época da escravização que o povo preto teve
seu status de humano retirado. O status de não-humano, de coisa, objeto
de venda e troca espraiou-se pelas outras atividades dali em diante, sendo a
cada etapa do desenvolvimento mundial, escalonado nas diversas partes do
planeta, tendo os processos racistas ressignificados e transformados com
mecanismos ora evidentes, ora subrreptícios (RAMOSE, 2011). Evidentemente que
as escolas filosóficas ocidentais, que há séculos são governadas por homens,
brancos, europeus e de seus descendentes é uma responsável competente por este
fato… mas…
Eis que os pretos e pobres, porque são pretos, e as negras exploradas constantetemente,
até as raias da loucura entram nas academias, pensando, refletindo sobres as
ausências e boicotes arquitetados para eternizar um lugar-comum, um lugar para
a não-gente-negra. Os questionamentos vão além da filosofia grega “plagiada” da
filosofia africana, ou mais intensamente egípcia (JAMES, 2009; CARNEIRO, 2005).
As consequências de tão longo processo racista foram nefastas para negros
e negras na atualidade, que necessitam resistir aos processos de tentativa de
expulsão de toda reflexão que insista na existência do racismo institucional,
enquanto engolem os conteúdos que tratam negras e negros como não-ser, como nos
esclarece Sueli Carneiro:
A diáspora negra compartilha uma experiência histórica
comum de escravização e de opressão racial; compartilha também um ethos cultural determinado pelas formas
objetivas e subjetivas de resistência a essa opressão e, sobretudo, compartilha
o desafio da emancipação coletiva em todas as sociedades do mundo onde são
alocadas. Isso faz com que a cultura negra, onde quer que se manifeste, seja
patrimônio dos negros de qualquer lugar. (CARNEIRO, 2005, p. 68-69)
Esta verdade sobre as organizações negras intra e extra-acadêmicas impõe
uma nova forma de lidar com o conhecimento, onde planos epistemológicos até
então renegados, entram na academia pela porta da frente, com as ferramentas
que a modernidade nos legou, ainda que tenham sido conquistadas a partos com
fórceps. A dor que esta alteração provoca imprimiu no conhecimento
compartilhado uma marca indelével, que só pode ser superada na convivência que
tenha na cosmovisão africana uma cama aconchegante. Não que os conflitos daí
advindos desapareçam, o lugar de não-outro tentando empurrar o “eu-hegemônico”[1] do
trono real ocidental será sempre, ainda e por muito tempo, a fumaça fugidia que
lançarão mão contra negros e negras.
O
CONTROLE DO CONHECIMENTO COMO ARMA IDEOLÓGICA HEGEMÔNICA NOS CURSOS DE
FILOSOFIA
Em julho de 1950, durante uma viagem ao Brasil,
Katherine Dunham foi barrada na recepção do Hotel Esplanada, em São Paulo, o
mesmo que abrigou Claude Lévi-Strauss e sua mulher Dina Lévi-Strauss entre
1935-1936, enquanto o antropólogo lecionava na USP e Dina contribuia com as
discussões sobre folclore nos projetos de Mário de Andrade. O episódio foi
recebido com choque por ela e pelas autoridades brasileiras. (GOMES, 2013, p.
35)
Não precisa perguntar muito, mas a gente insiste nas questões[2]:
1.
“Como aprendeu filosofia no curso de
filosofia?
Através de leituras de clássicos, lendo comentaristas de temas da
filosofia, através de atividades práticas, produção de textos sobre os assuntos
estudados, etc.
2.
Quais filósofos
ficaram na sua memória do período da faculdade?
Os filósofos antigos: Platão, Sócrates, Aristóteles, Heráclito, Parmênides;
os filósofos medievais: Santo Agostinho e São Thomas de Aquino; filósofos modernos:
Renne Descartes, Maquiavel; filosófos contemporâneos: Hidegger, Jean Paul
Sartre, Merleau-Ponty, Immanuel Kant, etc .
3.
E agora no ensino
médio, como é ensinar filosofia?
Basicamente a questão é auxiliar os alunos a desenvolverem a argumentação
e a concatenação de ideias, fala-se em filósofos e temas, ou melhor, áreas da
filosofia mais como contextualização do que um assunto a ser aprofundado.
4.
Se você tivesse
estudado filosofia africana teria mais condições de lidar com o racismo dentro
da escola?
Acredito que mais que estudar qualquer conteúdo escolar o importante seja
entender o que é o racismo e quais as suas consequências, mas não tenho dúvida
que o fato de se falar muito pouco de
filosofia fora do contexto europeu e norte-americano esteja dentro de nosso
contexto eurocêntrico, assim como o fato de se questionar o fato de como surgiu
a filosofia, se esta é um milagre grego ou não, ou outros filósofos fora do
contexto eurocêntrico, ajudam a reforçar o racismo.
Portanto, para mim o mais
importante não é estudar filosofia africana, mais entender profundamente o
racismo dentro da educação de uma maneira geral.
5.
Comente os
trechos das frases incompletas:
a)... chegou no hotel e logo de cara foi discriminada…
No Brasil para alguns não
existe racismo, mas pergunte para um negro como ele é tratado em locais
públicos, quantos conhecidos já foram abordados de polícia, etc...
b)Ubuntu pode ser traduzido como “o que é comum a
todas as pessoas”. A máxima zulu e xhosa, umuntu
ngumuntu ngabantu (uma pessoa é uma pessoa através de outras pessoas)
indica que um ser humano só se realiza quando humaniza outros seres humanos. A
desumanização de outros seres humanos é um impedimento para o autoconhecimento
e a capacidade de desfrutar de todas as nossas potencialidades humanas. O que
significa que uma pessoa precisa estar inserida numa comunidade, trabalhando em
prol de si e de outras pessoas. A ideia de ubuntu atravessa, constitui e regula
inúmeras comunidades africanas bantufonas. É importante considerar a
afrodiáspora.” (NOGUERA, 2012, P. 148)
O conhecimento africano é
ignorado na faculdade, o máximo que pode acontecer é se estudar algum filósofo
negro, só lendo Santo Agostinho.
Não há contribuição
africana, não é difícil encontrar alguém formado em filosofia que não se lembre
se discutiu se o Egito Antigo influenciou a filosofia grega ou não, se bem que
para alguns intelectuais o Egito está na Europa.
c) A base da afrocentricidade…
(NASCIMENTO, 2009)
Durante a graduação, o
termo mais próximo disto que ouvi foi eurocentrismo, como uma crítica ao
excesso de valorização da cultura europeia, se minha memória não me está
pregando uma peça, estudei algo de filosofia latino americana, que durou trinta
horas.
d) A estética
africana no cotidiano da escola… (PETIT & BATISTA, 2014)
No caso da estética se
estudou como o europeu pensa a questão do belo.
Então eu questiono: como é
que poderemos alterar a realidade dos cursos de Filosofia?
O lance, a sacada é pensar
muito profundamente e agir à partir dos referenciais que não só são diferentes
do pensamento ocidental, como são conflitantes com ele. Voltar os olhos e todo
o corpo para a filosofia africana e mergulhar em outra cosmovisão de mundo, que
não negue o corpo no território, com todas as suas necessidades fisiológicas,
espirituais, vivenciais…
Recordo-me de um colega de
classe, filósofo e professor, que narrou a história de uma aluna sua cumprindo
medida socioeducativa (ou seja: presa) quando afirmou ter entendido os
princípios éticos que deveriam influenciar as decisões sobre roubar ou não,
matar ou não, assaltar ou não, usar drogas ou não! No entanto, a garota optou
por confessar que faria tudo outra vez ao sair da instituição.
Ainda que a teoria seja
fundamental para avançar na organização da vida coletiva, e até mesmo nas
tomadas de decisões, apartar o pensamento, a reflexão do corpo e seu
território, para realizar um exercício intelectual, ainda que importante, é
ensino frouxo!
Agora, afirmar que é
possível, na atualidade, revolucionar a sociedade, com as estruturas objetivas
que estão dadas, também é irresponsabilidade. O caminho que optamos na
cosmovisão africana, que às vezes, me parece bastante acovardado, é resistir construindo
outras possibilidades de conhecer e viver nesse mundo objetivo. Filosofando,
porque a pele negra nunca foi impeditivo para tal. A negação dessa capacidade
veio de fora da África. O racismo é componente intenso e forte na filosofia
divulgada como universal e que abarca uma parcela pequena do mundo,
considerando que a diáspora negra, só no Brasil representa mais da metade da
população.
ENSINO DE
FILOSOFIA NO CURRÍCULO DO ESTADO DE SÃO PAULO – BREVES NOTAS
Com base na dissertação de
Maria Helena Masullo O componente
curricular filosofia e seus professores no ensino médio da rede estadual de
educação de São Paulo, defendida em 2012 e no artigo de Luiz Gustavo do
Jornal Brasil de Fato, registramos que a obrigatoriedade das disciplinas
filosofia e sociologia no currículo do ensino médio é resultado de intensos e
longos embates. Até a década de 1970, a sociologia e a filosofia integravam,
como outras disciplinas quaisquer, o currículo escolar da educação brasileira. Durante
a ditadura militar, foram excluídos da grade curricular, substituídas por pela Educação
Moral e Cívica e Organização Social e Política do Brasil (OSPB). Tais
disciplinas assumiam um caráter panfletário pró-ditadura, eliminando
estrategicamente todo o caráter crítico e reflexivo da filosofia e da
sociologia.
Em 2008, a Lei nº 11.684 foi
sancionada em junho, pelo então vice-presidente em exercício José Alencar, e as
disciplinas foram novamente incluídas no currículo formal do ensino médio. Desde
então, o estado de São Paulo tem tolerado estas disciplinas no currículo, vez
ou outra ameaçando retirá-las, com base nas avaliações oficiais e nas notas dos
estudantes. Filosofia e Sociologia “tomam” o lugar de outras disciplinas,
consideradas de base como Português e Matemática. A APEOESP – Associação do
Professorado Paulista e os grupos de trabalho dentro e fora da rede estadual de
ensino buscam de todas as formas qualificar não só a defesa dessas disciplinas,
como também o conteúdo que elas portam, significativos e fundamentais para uma
formação crítica.
O LEGADO AFRICANO AO MUNDO DIASPÓRICO: POLÍTICA DE
INOVAÇÃO, DESEJO SUSTENTADO PELA PRÁXIS, COSMOVISÃO AFRICANA
Okonkwo era um guerreiro temido de Umuófia, um homem
destinado a grandes feitos. Agricultor dedicado, possuía uma grande plantação
de inhame. Desposara três mulheres e tinha filhos com todas elas. Destacara-se
nos festejos que envolviam competição e lutas. Aos trinta anos era um dos
maiores homens de seu tempo: recebera dois dos quatro títulos de distinção do
clã. Em cerimônias organizadas para deliberar sobre questões conjungais e de
terra, ele era um dos espíritos mascarados que assumiam o lugar dos
antepassados. Quando uma das mulheres de Umuófia pedeu a vida, foi ele o
encarregado de tratar das compensações pelo crime.
Apesar da grande bravura e da distinção de caráter,
Okonkwo passa a enfrentar dificuldades para lidar com sua personalidade
intempestiva e com seu apreço inabalável pela tradição. Durante o período de
paz, na época do Festival do Novo Inhame, dispara contra uma de suas mulheres.
Depois, um acidente do destino o faz cair em desgraça.
O voloroso guerreiro se vê forçado a um exílio de sete
anos. Okonkowo vai morar na aldeia onde vive a família de sua mãe. O período de
desterro coincide com a chegada dos missionários britânicos, que trazem novos
valores a uma sociedade assentada sobre costumes arcaicos.
Não é apenas o mundo de Okonkwo que se despedaça, mas
todo um universo de tradições que se vê acossado por uma religião que admite um
único Deus, por uma nova forma de governo e por instituições reguladoras
estranhas ao clã, como a escola e a polícia.
Os estertores da cultura tradicional coincidem com o
alvorecer de uma nova forma de vida, em que colonizadores brancos seduzem e
desorientam os nativos. A sociedade pós-colonial que se anuncia vai sobreviver
apoiada em novas bases – pouco harmoniosas, muitas vezes aterrorizantes, é
verdade, mas nem sempre mais opressivas que antes desse monumental choque de
culturas (ACHEBE, 2009, contra-capa).
O livro de Chinua Ashebe[3] O mundo se despedaça teve sua Introdução pelo ex-embaixador brasileiro
Alberto da Costa e Silva e a tradução de Vera Queiroz da Costa e Silva.
Escolhemos este trecho da obra, para refletirmos sobre o impacto que a
civilizações ocidentais produziram nas culturas africanas, que foi o processo
de escravização (desde as emboscadas para capturas de nosso povo até os dias
atuais, onde o processo de escravização de nossos corpos se transvestiram em
escravização cultural; ou alvo das batidas policiais). É do lugar de
escravizada, com um nome de escrava que escrevi esta reflexão.
Ao nos reunirmos para conversar sobre nosso trabalho no Mocambo e no
Movimento Negro em geral, a África e seus povos, repletos de processos
culturais diferenciados vêm à tona e então, um pouco da nossa experiência no
resgate histórico de algumas diferenças podem colaborar para desvelar o quanto
a negação de uma realidade cultural pode perdurar, através da xenofobia e do
racismo perpetuado nas ações contra os afro-brasileiros (as) na diáspora.
Diante da reprodução quase ingênua da arte tradicional, nós sabemos que
algo vaza, que nos falta a vivências dentro dos ambientes ancestrais que
permitiam elos concêntricos entre nós, os ancestrais e nosso futuro comum.
Diante disso, podemos reviver e acalentar o real dentro de um universo
imaginário e rico de possibilidades, que o processo escravizatório nos tirou.
Sartre no prefácio da edição de 1961 de Os condenados da Terra de Franz Fanon demonstra o desejo de
redenção diante do processo escravizatório, cheio porém do pessimismo da
situação:
O questionamento do mundo pelo colonizado não é um
confronto racional dos pontos de vista. Não é um discurso sobre o universal,
mas a afirmação passional de uma originalidade apresentada como absoluta. O
mundo colonial é um mundo maniqueísta. Não basta o colono limitar fisicamente,
isto é, com seus policiais e guardas, o espaço do colonizado. Como que para
ilustrar o caráter totalitário da exploração colonial, o colono faz do
colonizado uma espécie de quintenssência do mal. A sociedade colonizada não é
apenas descrita como uma sociedade sem valores. Não basta ao colono afirmar que
os valores desertaram, ou melhor, nunca habitaram, o mundo colonizado. O indígena
é declarado impermeável à ética. Ausência de valores, e também negação de
valores. Ele é, ousemos dizer, o inimigo dos valores. Nesse sentido, ele é o
mal absoluto. (SARTRE, 2005, p. 57-58).
Diante da constatação de que este processo de colonização foi absorvido
para os processos de racismo institucional, há um lugar para o não-ser, que
necessita rever suas certezas epistemológicas e emergir como uma pupa no casulo
para aprender uma história que refaça as possibilidades para o ser do povo
negro. Agora negro, porque miscigenado. Ainda preto, porque a branquitude não é
branca.
Mas este aprendizado não possui receita pronta. No máximo existem
Diretrizes Curriculares (BRASIL/MEC/SECADI, 2006) e a Lei 10.639/2003 que
tornou obrigatório o ensino de história da África e da cultura afro-brasileira
no currículo escolar. Assim sendo, a experimentação responsável e sua análise
sistematizada, colocando as ações dos coletivos afrodescendentes e
afrocentrados é que pode inaugurar uma nova fase de trabalho que respeite nossa
origem comum, como negras e negros na diáspora. Fanon arquitetou em sua obra,
uma possível revolução da negritude mundial. Escreveu em Os condenados da terra (2005), como poderíamos nos unir para
realizar o processo revolucionário mundial, não imitando, mas usufruindo do
legado marxista e de pequenas, árduas, mortais revoluções espalhadas pelo
mundo.
No seu encalço, Carlos Moore ousou desafiar o regime cubano e pôs o dedo
na cara de Fidel Castro acusando-o de racista por ter encerrado as atividades
das mais de 500 organizações negro-cubanas, nos anos 1960 (MOORE & CÉSARE,
2010; MOORE, 2010).
Nós no Movimento Negro na diáspora temos discutindo as possibilidades de
um processo revolucionário, e o máximo que concordamos é que temos que
questionar e por em check as
“verdades estabelecidas” pelos vários campos dos estudos ocidentais e
ocidentalizados, mostrando ao mundo (incluindo o acadêmico) novas formas de
lidar com o passado, o presente e o futuro, que na cosmovisão africana é uno e
não separado em três etapas.
O que nos anima, provavelmente mais que as teorias e práticas que
adotamos, estudamos e vivenciamos, é o encontro. Um encontro possível, animado,
ao redor de símbolos, máscaras, objetos cujo sentido original ficou perdido nos
elos partidos pelos navios negreiros. Mas estão ressignificados, ganham vida e
cores novas. As ervas cultivadas para os chás, rezas e trabalhos nas esquinas
das cidades ou encruzilhadas das áreas rurais compõem novos cenários, dentro de
uma economia capitalista, monopolista, inovadoramente escravizadora de corpos e
espíritos. No entanto, por razões que intuímos fugazmente, sabemos que existem
outras formas de lidar com o conhecimento.
Em suma, mesmo que estudemos cada vez mais nosso passado comum, na
negritude atual, há tantos conflitos como os que Okonkwo enfrentou e deles
fugiu como um covarde. Talvez Chinue Achebe renda a ele o tributo que optou por
não usar, com seu corpo já velho. Chinue Achebe matou seu heroi através de um
suicídio, ferozmente condenado pelos anciões da aldeia onde Okonkwo tinha até
então, sobrevivido. Negres no Brasil são convencidos que precisam assassinar
sua negritude quando na verdade, a sobrevivência é a mais preciosa lição que
podemos legar ao mundo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS OU
INICIAIS
Como africanos e africanas
da diáspora e na diáspora, ainda que falando do lugar de escravizadas e
escravizados, temos insistido que existem várias alternativas para diminuir o
racismo e o sexismo no mundo moderno. Para além de nossa insistência,
imprimimos, materialmente, novas formas de lidar com o conhecimento, vivenciando
estes processos dentro e fora dos limites do Mocambo. A garrafa de chá ou café
sobre a mesa, ou em qualquer roda de conversa, é muito mais que um convite à
degustação. De fato, inova maneiras africanas de lidar com o conhecimento, de
corpo pleno, inteiro, respeitado, na possibilidade de conhecer, respeitando o
corpo e sua ancestralidade.
O movimento Rasta por
volta de 1980 deu uma enorme contribuição para a recuperação do legado
africano, buscando compartilhar o livro de George James – Legado Roubado – a filosofia grega roubada da filosofia egípcia
(tradução nossa)[4].
Até a atualidade, mesmo sendo um material importantíssimo, não temos acesso à
tradução inteira desse material, que vamos traduzindo aos poucos em encontros
de estudo. Muitos de nós sabíamos ou desconfiávamos, através da leitura dos
livros de Elikia M`Bakolo e sua História da África Negra; Nkolo Foé, Bast´lele
Malomalo, além de sites que tratam do
feminismo negro, onde há citações sobre este livro de James.
George James incursionou
por várias etapas da filosofia africana e registrou estes fatos em seus
materiais de estudo. Professor na Universidade de Arkansas, nos EUA, James
publicou seu livro em 1945, em Nova Yorque. Já no capítulo 1 ele denomina-o com
a afirmação “[5]A
filosofia grega é o roubo da filosofia egípcia” e continua seu escrito
devastador até o capítulo 9 com o título “Reforma social através da nova
filosofia africana redendora” (tradução nossa). Este livro foi escrito para
pessoas leigas, ou não estudiosas profissionais. Seu trabalho foi recebido com
entusiasmo nos meios acadêmicos, onde o Movimento Negro já estava instaurado,
mas com ataques certeiros em outros locais. O professor James foi perseguido e teve
seu trabalho atacado dentro dos EUA, sendo relegado aos guetos, ou aos mocambos
onde é respeitado como um iniciador dos questionamentos na área da filosofia
africana. Em Arkansas onde escreveu Legado Roubado não existe nenhuma cópia de
seu livro, diploma ou menção da passagem do professor por lá. Logo após a
publicação de Legado Roubado George James foi assassinado.
Anos depois de seu material vir a público,
Cheik Anta Diop[6]
também fez um estrago nas “verdades” apregoadas ao longo dos séculos sobre o
nascimento e a ciência supostamente da Grécia antiga. Cheik Anta Diop juntou
aos seus estudos as análises através da física, química e antropologia.
Coroando a reconstituição
de nossa história milenar, ao publicar os 8 volumes da História da África, a UNESCO
colaborou para que houvesse uma organização de várias civilizações
negro-africanas, validando as pesquisas de George James e as publicações de
Cheik Anta Diop, que ainda estão sem tradução para o português, exigindo para
nossos estudos, traduções do françês
para o português.
A Representação da UNESCO
no Brasil e o Ministério da Educação lançaram a coleção História
da África, que abarca desde a pré-história do continente africano até sua
história recente. A Coleção descortinou um amplo leque de pesquisas, pois abriu
fronteiras para novas inquietações, que exigem especialistas sobre as
civilizações africanas, tanto as extintas como novas reoordenações, já que os
milhares de grupos ou nações africanas compõem muitas maneiras de viver nas terras
africanas e depois na diáspora negra.
A apresentação da Coleção,
quando lançada em português no Brasil, foi escrita por Vincent Defourny – então
Representante da UNESCO no Brasil e por Fernando Haddad, que na época era Ministro de Estado da Educação do Brasil:
A publicação da
Coleção da História Geral da África em português é também resultado do
compromisso de ambas as instituições em combater todas as formas de desigualdades,
conforme estabelecido na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948),
especialmente no sentido de contribuir para a prevenção e eliminação de todas
as formas de manifestação de discriminação étnica e racial, conforme
estabelecido na Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas
de Discriminação Racial de 1965. Para o Brasil, que vem fortalecendo as
relações diplomáticas, a cooperação econô- mica e o intercâmbio cultural com
aquele continente, essa iniciativa é mais um passo importante para a
consolidação da nova agenda política. A crescente aproximação com os países da
África se reflete internamente na crescente valorização do papel do negro na
sociedade brasileira e na denúncia das diversas formas de racismo. O
enfrentamento da desigualdade entre brancos e negros no país e a educação para
as relações étnicas e raciais ganhou maior relevância com a Constituição de
1988. O reconhecimento da prática do racismo como crime é uma das expressões da
decisão da sociedade brasileira de superar a herança persistente da escravidão.
Recentemente, o sistema educacional recebeu a responsabilidade de promover a
valorização da contribuição africana quando, por meio da alteração da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBN) e com a aprovação da Lei 10.639
de 2003, tornou-se obrigatório o ensino da história e da cultura africana e
afro-brasileira no currículo da educação básica. Essa Lei é um marco histórico
para a educação e a sociedade brasileira por criar, via currículo escolar, um
espaço de diálogo e de aprendizagem visando estimular o conhecimento sobre a
história e cultura da África e dos africanos, a história e cultura dos negros
no Brasil e as contribuições na formação da sociedade brasileira nas suas
diferentes áreas: social, econômica e política. Colabora, nessa direção, para
dar acesso a negros e não negros a novas possibilidades educacionais pautadas
nas diferenças socioculturais presentes na formação do país. Mais ainda,
contribui para o processo de conhecimento, reconhecimento e valorização da
diversidade étnica e racial brasileira. Nessa perspectiva, a UNESCO e o
Ministério da Educação acreditam que esta publicação estimulará o necessário
avanço e aprofundamento de estudos, debates e pesquisas sobre a temática, bem
como a elaboração de materiais pedagógicos que subsidiem a formação inicial e
continuada de professores e o seu trabalho junto aos alunos. Objetivam assim
com esta edição em português da História Geral da África contribuir para uma
efetiva educação das relações étnicas e raciais no país, conforme orienta as
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Etnicorraciais e
para o Ensino da História e Cultura Afro-brasileira e Africana aprovada em 2004
pelo Conselho Nacional de Educação.” Boa leitura e sejam bem-vindos ao
Continente Africano”.(KI-ZERBO, 2010, p VII-VIII)
No Mocambo temos esta
coleção em papel, reconhecimento da Fundação Cultural Palmares do Ministério da
Cultura, pelo trabalho que realizamos na cidade e região. Várias outras
instituições que trabalham com cultura afro-brasileira, pelo país também foram
contempladas com esta coleção.
Ainda que existam poucos
espaços onde possamos vivenciar a rekhet,
estamos atentas, com uma nova forma de encarar o conhecimento espraiada pelos
locais onde exista um núcleo da diáspora negro-africana. Mas há sempre os
ouvidos moucos e os olhos cegos, que insistem em relegar ao ostracismo o
conhecimento que portamos e também, o conhecimento que o mundo africano legou
aos povos da Terra. Não é brincadeira deturpar a geografia para retirar o Egito
do continente africano. É uma manobra racista de intensa repercussão mundial.
Não importa a nomeação que foi dada a este processo: foi racismo, é racismo e
precisa ser combatido com as armas que possuímos nos estudos realizados: as
armas do conhecimento.
Akoko nan – akoko nan tiaba na ekum ba
|
A galinha pisa nos pintos, mas não os
machuca. Símbolo adinkra da proteção materna
e paterna e da disciplina temperada com paciência, compaixão e carinho.
(NASCIMENTO & GÁ, 2009, p. 44-45) |
BIBLIOGRAFIA
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Queroz da Costa e Silva. São Paulo: Cia das Letras, 2009.
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Prefácio à edição de 1961 de Os
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Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2005.
[1]
“Falarei do lugar de escrava. Do lugar dos excluídos da res(pública). Daqueles que na condição de não-cidadãos
estavam destituídos do direito a educação e, em sendo esta, segundo Adorno, a
possibilidade de ‘produção de uma consciência verdadeira’, falo também como
alguém portador de uma consciência infeliz” ou de uma falsa consciência.
Dirijo-me a ti Eu hegemônico, falando do lugar do “paradigma do Outro”,
consciente de que é nele que estou inscrita e que “graças” a ele em relação a
mim, expectativas se criaram, que mesmo tentando negá-las, elas podem se
realizar posto que me encontro condicionada por uma “unidade histórica e
pedagogicamente anterior” da qual eu seria uma aplicação.” Introdução da tese
de Sueli Aparecida Carneiro, p. 20.
[2] Nota
da autora 1: Preparei um questionário para que o Professor Agnaldo respondesse.
Conversamos sobre Filosofia Africana já há alguns anos. Diante de sua postura
cética, eu insisto em dar de presente a ele textos já impressos sobre a
temática. Quis também tentar avaliar um
pressuposto: “que um processo mais informal de aprendizagem dificulta ensinar
sobre um tema relegado às favelas, antigas senzalas”. Na verdade, este é mais
um diagnóstico do intenso e enorme trabalho que temos diante de uma discussão
mais aprofundada. Quanto à identificação do racismo já existe uma compreensão
da necessidade do trabalho, mas compartilhar o lugar do mestre (masculino, ocidental,
branco, homofóbico, machista, sexista e preconceituoso) há um longo processo de trabalho. Esta
constatação, profundamente amorosa, serve também para outros filósofos que conheço e com os quais convivo.
[3] Chinua Achebe nasceu em Ogidi, Nigéria, em
1930. Um dos mais respeitados escritores africanos da atualidade, é romancista,
poeta e ensaista. Este seu romance é de 1958 e já foi traduzido para mais de 40
línguas.
[4] Em 2020
recebemos o livro no grupo do Coletivo Mãos Negras, inteiro traduzido para o
português. Ainda é uma edição não oficial.
[5]
Texto original: Chapter I: Greek Philosophy is stolen Egyptian philosophy.
Chapter IX Social reformation though the new philosophy of african
redemption.(JAMES, 2009, p. 2-4)
[6] Cheikh
Anta Diop, nascido em 29 de dezembro de 1923 em Thieytou, falecido em 7 de
fevereiro de 1986 em Dakar, foi um historiador e antropólogo senegalês. Em seus
estudos, ela enfatizou a contribuição da
África e, em particular, da África negra, à cultura e à civilização mundiais.
Hoje suas teses são contestadas e pouco retomadas na comunidade científica
ocidental, como acontece com todas as pessoas negras que ousam contestar o
lugar no pedestal que a cultura hegemônica impôs aos estudos acadêmicos. Carlos
Moore, cubano de nascença, exilado de seu país por contestar Fidel e sua
política, entrevistou Diop antes de sua morte, publicando a gênese e alguns
apontamentos do pesquisador senegalês.