sexta-feira, 28 de maio de 2010

Arte afrobrasileira

A diáspora africana e sua arte mítica

Máscaras ritualísticas...
Lembra aquela cor que só a terra e o tempo possuem!
Ela ganhou vida e cores! 
Aparece na minha existência e eu quero compartilhar este sentimento de pertencimento com as pessoas da minha época.
Esta África que você retrata não existe mais, dizem alguns!
Sabe, esta imagem, Picasso já usou. Ele fez tudo que podia!
E minha alma ancestral sussurra que não: é preciso por  as mãos na massa e transformar em realidade meu passado mítico.
De madrugada, quando os beija-flores dormem, o silêncio impulsiona minhas mãos e eu descubro o quanto fomos negados.

Posso modelar esta face. Olhe, como se parece com a pessoa que vejo no espelho. Suas escarificações profundas nas faces me contam da história e eu mergulho cada vez mais na espera, para parir a paciência, enquanto seca o papel-machê.
Já não me pergunto mais se posso imprimir em material tão moderno, o que as pessoas minhas irmãs; artistas de mãos tão hábeis
e negras e calejadas
e cheirando a ébano, imprimiram na madeira...
eu posso fazer no papel.
o quê?
- fez com sucata.
O quê...
Fez no tecido?
O quê?
Fez em seus escritos.

Elas tinham madeira, mas nós artistas desta terra abençoada, na nossa condição de lutar pela nossa libertação temos papel...

Temos materiais frutos dos despojos desta sociedade que capitaliza, que monopoliza, que menospreza, quase nos despreza e nos avilta...porém nos furta a criatividade e diz que é dela, com ares de sabedoria, meio riso condescendente... Ah!!!

Com seus vácuos, suas recusas e me acusa:
- Você, o que usa?
Papier-machê...  de tão bela, fico me perguntando: quantas mãos fizeram o que faço?
Como pude imprimir no espaço esta peça que recupera meu passado mítico: Eu existo, explodo de arte e compartilho nosso passado em comum, me perguntando, ora com raiva, ora exultante: Por quê me esconderam tanta beleza, tantas belas obras que finalmente sou capaz de recuperar.
A cada modelagem recebo minha história como um presente que sou capaz me dar e a pergunta  ribomba por dentro:
Minha África Mãe, estou te encontrando? Minha África Mãe, estou te respeitando? Me responda?

Minhas mãos respondem em frenéticos movimentos. Preciso  modelar aquele contorno, a face, as curvas das orelhas, os dedos dos pés, retorno ao rosto. Revivo, me movo ao encontro de  mim. E agora na hora de compartilhar, cá está: toque, cheire, apalpe, corra os dedos pelas peças, abrace se quiser!