terça-feira, 21 de janeiro de 2025

 

Mio de grilho (Lantana trifolia L); Melissa (Melissa officinalis) e Lipia Alba

Aulão de fevereiro de 2025 - Parque do Jardim Cambuci - Presidente Prudente/SP


Mio de grilo                                               Melissa oficinalis

      


Lipia Alba

   

Estas plantas estão na mesa aula porque possuem características visuais em comum e várias pessoas  confundem estas plantas.

Segundo a literatura científica o milho-de-grilo é utilizado como planta medicinal pela população de vários países. Dentre os usos na medicina popular destacam-se a utilização contra gripe, asma, reumatismo, indigestão, micoses, malária, febre amarela, tosse, leishmaniose, tuberculose, gonorreia, como calmante e anti-inflamatório.


Mio de grilho (Lantana trifolia L)

As suas sementes quando roxas são comumente relatadas como comestíveis e de sabor doce, embora até a data dessa publicação não tenham sido encontrados estudos que indiquem a segurança para consumo dos frutos e outras partes da planta. Sendo assim, e visto que várias espécies do gênero Lantana possuem alguma toxicidade nas suas folhas. Acontece que as nossas gerações mais velhas comeram muito, eu também comi e deu para minha filha. então temos a prática do consumo tradicional das lindas bolinhas do mio de grilo.

 A planta de nome popular milho-de-grilo é um subarbusto nativo do Brasil e com ampla distribuição pelo país. Algumas informações foram consultadas na Tese com o título             “Estudo químico e avaliação do potencial antifúngico das folhas e frutos de Lantana trifolia L. (Verbenaceae)”      de autoria "VALERIO, Gaveni Barbosa" -  Primeira Orientadora:    PIVATTO, Amanda Danuello (https://bdtd.uftm.edu.br/handle/tede/521) . Tese apresentada na Universidade Federal do Triângulo mineiro.


Nome científico: Melissa officinalis L.

Sinonímia Científica: Melissa altissima Sibth e Sm.; Melissa cordifolia Pers.; Melissafoliosa Opiz.; Melissa graveolens Host.; Melissa hirsuta Hornens.; Melissa occidentalis Rafin.; Melissa romana Mill. Melissa bicornis Klokov.

Nome popular: Melissa, Melissa Verdadeira e Erva Cidreira.Família: Lamiaceae.

Parte Utilizada: Folhas e ramos.

Composição Química: Padronizado em 5% de Ácido Rosmarinico, Óleo Essencial: linalol, nerol, geraniol, citronelol, α-terpineol, terpineno-1-4-ol, neral, geranial, cariofilenol, farnesol, 10-epi-α-cadinol, α-cubebeno, α-copaeno, β-burboneno, βcariofileno, α-humuleno, 1,8-cineol, óxido de cariofileno e ocimenos; Flavonóides:luteolol-7-glicosídeo, ramnocitrosídeo, apigenina e quercitrosídeo; Ácidos Carboxílicos: cafêico, clorogênico, elágico e rosmarínico; Taninos; Princípio Amargo; Mucilagens Urônicas.

É indicada na inapetência (ausência do apetite), gastrite, espasmos gastrintestinais, disquinesias hepatobiliares, meteorismo (presença exacerbada de gases no trato gastrointestinal), coleocistites, diarréias, ansiedade, insônia, hipertensão arterial, taquicardia, enxaqueca, asma, dismenorréia, em feridas, hipertiroidismo e herpes simples. Também apresenta efeito sedativo e ligeiramente hipnótico, e antioxidante. O ácido rosmarínico presente no extrato é um dos principais componentes responsável resposta farmacológica da Melissa officinalis.

Efeito antiviral: Um ensaio clínico duplo-cego, randomizado e controlado com placebo, avaliou o efeito antiviral do extrato aquoso de Melissa officinalis em 116 pacientes com infecção de HSV (herpes) da pele ou da mucosa de transição. Houve melhora estatisticamente significativa do grupo tratamento em relação ao grupo placebo.

Efeito sedativo: M. officinalis pode modular várias medidas de comportamento, como um moderado sedativo em transtorno do sono, na atenuação de sintomas de desordens nervosas, inclusive a redução de excitabilidade, ansiedade e tensão. Em estudo pré-clínico em camundongos, foi administrado um extrato hidroalcoólico de folhas de M.oficinalis, houve redução significativa da atividade comportamental em dois testes em comparação com o controle, o que sugere que o extrato apresenta efeito sedativo.

 

 A Lippia alba, espécie nativa do continente americano, é conhecida mundialmente por suas propriedades medicinais. De plantio fácil e econômico, a planta, também chamada de erva-cidreira, melissa, salva-limão e alecrim-do-campo, produz óleos essenciais usados na fabricação de produtos de perfumaria e cosméticos. Suas folhas estão presentes em chás, compressas, banhos e xaropes.

 

Lipia Alba 

Seu nome é uma homenagem ao médico, botânico e naturalista francês Augustin Lippi (1678-1704), daí o “Lippia”. “Alba” vem do latim, albus, em referência às flores brancas. Em algumas regiões, a planta é conhecida como falsa-melissa, por sua semelhança morfológica com a erva-cidreira, a Melissa officinalis L. Na nossa região há a variedade da Lipia com flores lilases.

Características:  Essa planta apresenta propriedades calmantes e aromáticas, é perene e muito ramificado, apresentando brotações eretas que se curvam conforme o desenvolvimento da planta, atingindo o solo e se enraizando. As moitas do arbusto variam entre 1,5 a 2 metros de altura. Suas folhas são pecioladas, com lâmina cartácea, ovada, elíptica ou lanceolada, opostas, inteiras, de bordos serreados e ápice agudo. Apresenta flores azuis-arroxeadas em inflorescências axilares capituliforme, com eixo curto e tamanho variável. Já seus frutos são do tipo drupa e dão globosas de cor rosada a arroxeada.

 Originária da América do Sul, ocorrendo principalmente na Venezuela, Equador, Peru, Bolívia, Brasil e Argentina. Também pode ser encontrada no sul dos Estados Unidos, México e nas Antilhas. Cultivada para fins medicinais, cosmecêuticos, ornamentais e culinários. Suas principais indicações são: sedativa, antiespasmódica, antidispéptica, antitérmica, antiviral, antibacteriana, antiparasitária, antisséptica, hipotensora, cardiotônica, expectorante, anti-inflamatória, analgésica, antinociceptiva, anticonvulsivante e cicatrizante.

O óleo essencial de Lipia Alba tem um cheiro maravilhoso e é a planta da calmaria. A que serve para aliviar as dores da alma e abrir espaço para o perdão.

 

 



terça-feira, 26 de novembro de 2024

 

POÉTICAS DAS ÁGUAS


Processo criativo coletivo. Coordenação de Ivonete Aparecida Alves

18-99740-6152

 

 Local: Quintal do SESC Thermas de Pres. Prudente

                Em cartaz até janeiro de 2025.

 

Nesta intervenção, obras que se interligam para ilustrar o desejo de proteção das águas e da terra, com o uso da técnica da kizombagem, criada pela artista plástica Ivonete Aparecida Alves. Em espírito, o mergulho na arte de vários povos negros presentifica uma poética de cores, tecidos, contas, agulhas e arames torcidos, respostas e indagações sobre as histórias negras. As acolhidas transformam a história sankofando nas paredes, nos ares e outros espaços através da kizombagem.

Sem lamentações, esta técnica preenche fissuras e repõe beleza, utilizando sobras variadas. Reutiliza. É coleta do desprezo, de tudo que a Terra não pode se nutrir.


PROCESSO CRIATIVO DAS OBRAS

Em 2017 iniciei um trabalho criativo com a inspiração de artistas negres pindorâmicos e da diáspora africana. Impressionada com o trabalho de Mama Esther Mahlangu da etnia Ndebele da África do Sul, que pintou carros na Europa e nos EUA eu também planejava a pintura do corsinha e ficava olhando para os diversos materiais presentes no quintal de casa com a intenção de transformar todo aquele entulho em obras de artes.

As edições de Arte Malunga  depois as Residências Artísticas que aconteceram no Mocambo Nzinga deram resultados animadores. As obras produzidas para as residências artísticas resistindo ao tempo,  abriu caminhos para aplicar a técnica da kizombagem em outras instituições.

Assim, esta Exposição teve uma história de longo tempo, tempo sankofado: o tempo de me fazer artista nas pesquisas e experimentações; o tempo de ensinar e aprender o fazer artístico de outras pessoas e também o tempo de experimentarmos as mais diversas técnicas de montagem das obras.



 Obra em criação


Sandra e Sara no trabalho artístico




Obra na fase final de elaboração


Tinturas naturais na confecção de elementos das obras


Durante o planejamento de elaboração desta Exposição muitas ideias pululavam na minha mente, buscando valorizar o processo criativo. Algumas destas ideias estão diretamente relacionadas com o rio que passa escondido dentro do SESC Thermas de Presidente Prudente. Daí o título "Poéticas das Águas". Sinto uma enorme tristeza quando olho um rio doente. A tristeza é ainda maior quando este rio doente é retirado das vistas e das corporeidades vivas.

Então temperar as partes das peças com tituras naturais é nutrir de vida o lugar onde o rio deveria emergir.


Tintura com urucum
  





Tintura com açafrão





Tintura com flores de critória



A KizomBagem

 

Esta técnica artística possui três princípios básicos:

 

Ser produzida por pessoas negras;

 

Ter inspiração nas obras artísticas de pessoas negras brasileiras ou da diáspora africana;

 

Utilizar (prioritariamente)  sobras de processos produtivos.


A kizombagem, uma festa de surpresas arranjadas

Sobre as mesas, terrenos e muros

Sem Lamentações...

Preenche fissuras

Repõe belezuras um tanto de emoção

Kizombagem é uma técnica que usa elementos

Terra, cores, sobras e  até cimento

Sobre qualquer superfície abandonada

É a coleta do desprezo

De tudo que a Terra não pode se nutrir

Ela rejeita e nem sabe quanto na linha de Iroko: o tempo

Irá consumir... Se con- sumir

A Terra dá, a Terra quer de seu orgânico

O organismo vivo

A terra não quer as sobras humanas elaboradas em laboratório

Kizombagem se faz com mãos negras

Em processo juntinho

Com outras mãos negras

Malungas estas mãos de lá e pra cá

Preenche o portão

As telas das grades

Os aros da bicicleta

Os tampos das mesas, afasta a tristeza que o mundo nos dá

Evita o consumo

Evita as sobras que enchem os rios

De plástico, urros e frios

Calafrios do horror

Mas até quando tantas sobras

Algumas não dobram

Algumas só sobram

Indagando da artista

E agora?

Que obra de arte

É possível fazer

Antes que o mundo expulse você!




POÉTICAS DAS ÁGUAS

POÉTICAS DAS ÁGUAS


Um mito de Olocum repõe esta Orixá nas profundezas das águas

É metade mulher e metade peixe

Com a cauda bipartida na imagética iorubana

Ela é toda família, protege a família humana

Olocum protege os mares todos e leva suas águas para territórios de Nanã

E Nanã adentra as águas doces grandes de Yemanjá

E as águas de rios de Osun: irmã mas nova das duas

Olocum, Yemanjá, Nanã e Osun olocupretam territórios sobre a Terra de Onilé: a quem Olodumaré deixou o governo dos territórios de Ayé, a Terra.

 

OBRAS INSTALADAS NA EXPOSIÇÃO POÉTICAS DAS

ÁGUAS



Deusa Attie - peça produzida em cerâmica



                                                                                                    
Oxum - Osun sobre o Rio Escondido



                

Bará e elementos





Sobras que não irão para as águas sessão 1




Sobras que não irão para as águas Sessão 3

Esta obra chega a 3 metros de cumprimento, por isso as imagens foram capturadas por sessão. Ela foi instalada entre duas grandes malaleucas. Uma árvore originária da Austrália, que possui um tranco com uma casaca bem macia. Suas folhas produzem um óleo maravilhoso, com várias substâncias terapêuticas.









Yabás 

Esta obra tem Olocum, Yemanjá, Onilé, Oxum e elementos de várias Yabás. As Yabás são as grandes mães do povo negro de origem iorubana (nagô) por origem, ou na diáspora, por adoção.

As obras foram produzidas com diversas técnicas de trabalho como costura, colagem, emendas, bordado, crochê, etc.

Há componentes nas obras que foram produzidos na arte da costura que cuida de detalhes como mimos produzidos com fuxicos coloridos, babadinhos produzidos com rendas, fluflus coloridos de lãs e de linhas.

Na obra Yabás existe uma denúncia do que seja a apropriação cultural. Qual não foi minha surpresa ao encontrar no calcadão da cidade a estampa de uma capulana africana numa sacola de muamba feita de plástico.
a sacola estaa com defeito e então consegui adquiri-la por um preço módico para outra Ocupação Artística e sobrou retalhos. Produzimos bonecas Abayomis com as capulanas originais e as dispusemos próximas ao plástico da sacola de muamba.









quinta-feira, 23 de novembro de 2023

 CARRO AFRO


Era somente um corsinha já bem rodado. Cuidamos muito bem dele. O motor recebeu um bom trato, algumas peças internas foram trocadas, assim como locais com trincos receberam reparos. As capas dos faróis foram trocadas e as borrachas do para-brisas também foram trocadas. As bases em metal foram pintadas.

O plano de pintar um carro nasceu com a pesquisa sobre as Mulheres Negras Artistas. A inspiração de Mama Esther Mahlangu da África do Sul foi decisiva. Ela nasceu em 1935, na comunidade Ndebele, que está no território conhecido como África do Sul. Na tradição Ndebele a mãe ensina a filha a pintar à mão livre há muitas gerações. Para casar a menina precisa já ter aprendido a pintar sua casa com as tintas da natureza de seu entorno. Há pouco tempo estas mulheres incluíram a pintura com tintas comerciais.


Em 1989, Mama Esther participou de um evento com artistas do mundo todo, em Paris, chamado, Mágicas da Terra, onde pintou edifícios públicos com a arte de sua ancestralidade. Depois foi convidada a pintar carros chiques. Ela usa tintas de vinil de alto contraste na pintura de carros.

Durante mais de 10 anos acompanhei e estudei os traços de Mama Esther, mas não só. Arthur Bispo do Rosário, El Anatsui, Sonia Gomes, Ayeola Moore, Nene Surreal, Mickalene Thomas, Rosana Paulino, Renata Felinto, Barbara Chese Riboud, Lena Martins e outras mulheres da cooperativa Abayomi estiveram presentes em várias fases da minha pesquisa.


Com certeza a ousadia de Arthur Bispo do Rosário foi o que mais me animou na produção do carro Afro. Eu me questionava: Quais tintas utilizar? Quais técnicas seriam necessárias para o interior do carro e quais técnicas seriam necessárias para o exterior do carro?

As pesquisas apontavam para tintas caras e processos industriais de pintura e a gente que é da periferia e pobre não tem condições de pagar pintura cara. Então o jeito foi experimentar. Usei várias tintas na pintura do metal, desde tinta a óleo para pintura de tela (a base de óleo), até tintas PVA a base de água.

pintura a tinta óleo, com retoques em tinta PVA - acabamento em verniz spray





símbolo adinkra Aya produzido com carimbo (tinta a óleo, retoque com pincel Posca) - as sementes da samambaia foram feitas com tinta acrílica em pasta


na parte traseira outra Aya com tinta relevo dimensional brilhante metálica



Aqui usei tinta acrílica no amarelo, spray em lata em azul, amarelo, vermelho e o carimbo com preto Fafanto é com Betume da Judeia - No pegador usei tinta PVA Metal Ferro



As calotas foram pintadas em duas etapas com tinta spray  em lata, vermelha, protegendo os parafusos
A parte  em plástico foi colorida com tinta PVA brilhante

onde houve um dia o logo do Corsinha fiz esta peça com a tampa do vidro de requeijão

Em alguns locais a lataria do carro estava bem enferrujada. Usei lixa de metal e depois de uma pintura de base com tinta spray ou PVA apliquei massa Epoxi. Colori e fui aplicando contas, búzios africanos e nacionais e outras pecinhas que ganhamos. Temos potes e potes com sobras de diversos carnavais, procissões para Nossa Senhora e das festas de Orixás de Candomblés, Umbandas e outras manifestações. Tem conta azul de Nossa Senhora ao lado das contas de Exu. Tem sobras das roupas de Oxalá, com espelhinho de Osun. É um Xirê.


As capas dos bancos do carro





Tirei as capas e lavei. Depois remendei onde precisava e coloquei os amarrios que soltaram. Aí fui rever o livro com o trabalho de Sônia Gomes, que usa muitos tecidos na confecção de suas obras de arte. Compus a capa do banco com sacolas já produzidas pela minha irmã Lena e muitos fuxicos já prontos. No centro coloquei um porta papel que desmanchei. Depois apliquei bonecas Abayomis.

Nos bancos da frente apliquei tecido africano, conhecido como capulana,  na parte do encosto e assento.



A parte de trás da capa tem um símbolo adinkra colorido, sobre o tecido pintado.

No caso a pintura acelerou bastante o processo de afrocentrar o carro, pois se fosse para bordar todas as capas haveria necessidade de muito mais tempo de trabalho.


A traseira do carro

Sankofa em tinta acrílica em bastão, pote e PVA

Ayla em tinta relevo




Há vários detalhes para serem trabalhados no carro, mas penso que já consegui desenvolver várias técnicas para pintura em carro e para a decoração externa e interna. Olhando as obras em tecido Bakuba também penso em utilizar a tecelagem e o colorido natural nos tecidos para produção de capas internas em veículos.

Este projeto ainda será replicado em cursos de formação para pessoas que queiram aprender a pintar suas bicicletas, motos ou carros.

Quando eu disse que iria pintar um carro, uma amiga minha pensou que era um carro de brinquedo. Ele anda pelas ruas da cidade de Presidente Prudente e já estivemos em Assis, com olhares e muito atentos e várias perguntas da curiosidade humana.

Quer aprender?

Vem para o Mocambo.


















domingo, 18 de junho de 2023

MULHERES NEGRAS SANKOFANDO NO MOCAMBO NZINGA - TESE DE DOUTORADO - Unicamp 2022

LINK para acesso: 

https://www.repositorio.unicamp.br/Busca/Download?codigoArquivo=556623

 

MULHERES NEGRAS SANKOFANDO NO MOCAMBO NZINGA

IVONETE APARECIDA ALVES

 RESUMO

Um esteio estrelar constitui esta pesquisa que indagou das mulheres negras do Mocambo APNs Nzinga Afrobrasil – Arte – Educação – Cultura, em Presidente Prudente/SP –Brasil, o que desejam para si, para sua família e para a comunidade. O escopo do trabalho foi buscar realizar os desejos e sonhos destas mulheres, narrados nesta Tese. Na maioria dos casos, elas priorizaram fazer pedidos para seus familiares e para a comunidade. A referência central da pesquisa é o mulherismo amefricana, a partir da escrita militante de Lélia Gonzales e das filosofias afrocentradas umbutuístas, na atualidade sintetizados pelo termo Mulherismo Africana. Para sustentar as possibilidades reais e as possibilidades intentadas, a pesquisadora imbuiu-se de ações em consonância com a psicologia africana e saberes ameríndios legados ao povo negro através das mulheres dos diversos grupos indígenas americanos. A atuação como Agbá, (Mais Velha) do Mocambo imbricou as narrativas das histórias de vida sua com as das mulheres agentes da pesquisa. A este processo nomea-se atualmente “escrevivências”, termo cunhado por Conceição Evaristo.  Em alguns trechos produziu-se as “inscrevivências”, como uma obra de arte modelada ou as escarificações na pele que marcam o parentesco. Os trabalhos advindos deste processo constituíram um acervo museológico de uma tradição viva, compondo o Museu Afroperiférico, um acervo de obras de arte afro, obras contemporâneas, livros, músicas, plantas, cantos de matriz africana, plantas da tradição caipira e afroreferenciada e também a produção de comida, além da arquitetura e paisagística da casa, muros e divisórias que recebem as tintas naturais. A composição da Tese em Atos foi inspirada nas narrativas africanas, onde a história é composta na sua possível integridade, já ilustrando na forma a questão da afrocentricidade, com as cortinas deste teatro debaixo de sombras de Iroko, ora fechadas, ora abertas, ora entreabertas, permitindo que a orquestra da vida semeie seus acordes suaves como a brisa ou furiosos como a tempestade, modelando a escrita, como modela a vida.

Palavras-chave: Mulheres do Mocambo APNs Nzinga Afrobrasil; Mulherismo Amefricana; Psicologia Africana; Museu Afroperiférico.

 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

 ABRE ALAS NEGRITUDE: A EXPOSIÇÃO NO MUSEU HISTÓRICO DE PRESIDENTE PRUDENTE - DE 01 ATÉ 30 DE NOVEMBRO DE 2023





Acervo “ABRE ALAS NEGRITUDE”

Proposta: Ivonete Ap. Alves

 

Equipe:

Agnaldo Júlio de Paiva; Silvana Regina Fermino do Nascimento; Alexandra Ribeiro do Nascimento; Sandra Aparecida Paulino; Alícia Vitória Fermino do Nascimento; Alexia Mel do Nascimento Brito; Saymon Augusto do Nascimento Paulino e Silas Ramon do Nascimento Paulino.

 

Proposta:

Com base na produção, curadoria e exercícios de fazer artístico elaborando obras de arte individuais e coletivas que tenham como inspiração outras mulheres e homens artistas negres do Brasil, africanes e de outras diásporas como Mama Esther Mahlangu, Arthur Bispo do Rosário, El Anatsui, Nenê Surreal, Maria Auxiliadora, Ayeola Moore, Barbara Chase Riboud, Renata Felinto dos Santos, Rosana Paulino, Lois Mailou Jones Howard, Mickalene Thomas, Laura Wheeler, Edwige Aplogan e Ayrson Heráclito e Jader Esbell Makuxi (indígena).

 

Obras produzidas com exercícios livres de desenho e pintura no início e depois direcionada para inspirações definidas.

 

Símbolos adinkras: Foram muito utilizados em várias propostas de pintura.


RELATO:

A exposição ficou em cartaz até o dia 06 de novembro devido a alguns fatos importantes. Minha mãe Maria Alves faleceu em Garça/SP no dia 29 de novembro e tivemos de ir para o velório e enterro dela. Assim foi preciso ir buscar a Exposição na semana seguinte. Ocorre que no primeiro final de semana de dezembro houve uma série de eventos no Museu, o que possibilitou a visita de outras pessoas que lá compareceram nos eventos do final de semana.

Nós tivemos uma inauguração festiva também no dia 05 de novembro, contando com os doces de Selma, outra malunga do Mocambo que não pode participar diretamente das aulas de artes na Residência.


A inauguração ocorreu na sexta-feira, pois montamos a Exposição na segunda feira anterior e a maioria das pessoas artistas tem um trabalho que ocupa todo o dia. Um desafio na montagem da Exposição foi adequar as obras de tamanhos diferenciados na Sala Expositiva.














À partir deste trecho já utilizei as informações que constaram no Relatório enviado à Secretaria de Cultura de Presidente Prudente.

1-DETALHE COMO SE DEU A EXECUÇÃO DA ATIVIDADE ((Descreva a (s) principal (s) atividade (s) realizada (s)  no projeto, identificando o conteúdo, tempo de duração, público-alvo, objetivo alcançado, metas e outras informações específicas importantes, de acordo com o previsto no projeto.

 

As aulas foram preparadas para que o grupo de artistas tivesse contado com várias técnicas de produção, antes de chegar ao cerne da proposta, que foi ensinar a kizombagem, uma técnica artística com alguns princípios de execução.

As aulas foram combinadas para acontecerem aos sábados e já no primeiro encontro vimos a necessidade de aumentar os encontros, para trabalhar em técnicas diferenciadas.

Este fato foi notório no momento de distribuição da Apostila (cada participante recebeu a sua) e também dos materiais que compuseram um kit de aprendizado, com material para  Desenho (incluindo Folha de papel machê), Papel machê com fibras e durante o curso aprendemos as técnicas da Modelagem; Escultura em papel machê; Usos de sementes e folhas nas instalações; Desenho e pintura de paisagens naturais; Tinturas naturais: açafrão, urucum, hibisco roxo, terras, folhas, extrato de nogueira e jambolão.

Isto porque a técnica da kizombagem exige que várias outras técnicas possam ser combinadas, pois o princípio do trabalho é reutilizar o máximo de material, aproveitando também os disponíveis na natureza e particularmente na área do Mocambo.

 

Kit recebido por cada participante:




Ao receber seus materiais houve uma surpresa muito grande, principalmente das pessoas adultas, pois para que a Residência Artística tivesse sucesso optamos por selecionar algumas famílias que já participam das atividades do Mocambo Nzinga preparando um sucesso na Exposição.

 

O primeiro exercício proposto foi o de conhecer os resultados dos diferentes materiais que cada participante recebeu. Sugeri a divisão de uma página de papel coucher em 6 partes e em cada parte utilizar um tipo de material de desenho e/ou pintura: lápis de cor, giz pastel, giz pastel oleoso, canetinha, tinta guache, tinta acrílica profissional, tinta aquarelável, tinturas naturais, etc.

Neste processo de propor o estudo da ancestralidade negra houve um interesse surpresa: os adinkras. Eu não tinha previsto que o grupo pudesse ficar tão interessado nesta simbologia africana e assim tive que providenciar uma cópia de alguns dos significados dos símbolos adinkras e várias vezes compartilhei meu livro sobre os adinkras para que pudessem estudar.

O Silas escolheu a AYA – folha da samambaia para colocar em sua obra. A Mel escolheu o Sankofa e a Silvana fez uma tela inteira com símbolos adinkras.

Recuperei um arquivo de uma Oficina chamada “Carimbando adinkras” que coordenei no SESC Thermas para compartilhar o arquivo em papel com o grupo.

Carimbando Adinkras:

Uma oficina afro-brasileira

 

Adinkras são símbolos que representam

milhares de anos da cultura africana.

Conta a história, que sua organização atual teve início quando o Rei Kofi Adinkra de Gyaaman, (hoje uma região da Costa do Marfim) copiou

um banco do Rei dos Asanthene.

Este banco era o símbolo da realeza e a cópia acabou provocando uma guerra.

Pela sua audácia, o Rei Kofi perdeu a cabeça,

 que foi levada como troféu, mas teve sua

 cultura reconhecida e seu nome foi dado aos símbolos encontrados nas suas terras, como homenagem pela sua espetacular liderança.

 

SÍMBOLOS ADINKRAS

SANKOFAS

 

Se wo were fi na wo sankofa a yenkyi.

 

Nunca é tarde para voltar e apanhar o que ficou para trás.

OU: Ter os pés no presente, indo em frente, sem esquecer o passado.

 

 

 


 

Mocambo APNs Nzinga AfroBrasil – Arte – Educação – Cultura.

Rua Amélia Sanches Matheus, 305 – Jardim Cambuci – Pres. Prudente/SP – Brasil - (18) 99740-6152

 

O folder, com os desenhos e a descrição de 10 símbolos adinkras possibilitou o reconhecimento desta importante HERANÇA dos povos negros. E também despertou muito interesse um símbolo africano que foi roubado pelos nazistas: o símbolo adinkra Nkotimsefo Mpua. Há dois formatos dele: um em linhas retas e outro em linhas circulares.





 

O penteado dos atendentes da corte

Símbolo de serviço e lealdade. Baseado no penteado cerimonial dos atendentes da corte real. Também simboliza as essências feminina e masculina da vida – a dualidade da essência da vida.

 Conversamos sobre a proibição oficial do uso da “suástica” porque acabou ficando conhecida como o símbolo de um crime contra a humanidade. O argumento do Saymon foi de que é um símbolo do povo preto e que está errado a gente não poder usar. Assim, orientei para que ele cobrisse o símbolo africano com um tecido escrito: “Este símbolo foi roubado pelos brancos”.



2- AVALIAÇÃO DO PROJETO (  (Informe como o projeto foi realizado;  pontos positivos e negativos, sugestões e  resultados alcançados )

A proposta de escrita do Projeto foi pautada em pedidos de pessoas das comunidade. Desta maneira a gente ficou atenta para a oportunidade de atender as demandas, sempre muito constante, de pedidos das pessoas da comunidade para que a gente execute propostas onde elas possas participar.

Não só demandas da comunidade mais diretamente envolvida, mas também de outras pessoas artistas que entram em contato com minhas produções de obras de arte, como também para processos de Curadoria e Produção.

Pedi para que as pessoas elaborassem a Avaliação que reproduzo abaixo:

 

“Africanizando

Uma visão maravilhosa sobre a liberdade de criação a partir de técnicas ensinadas.

Uma oportunidade única dessa residência me deu a alegria e liberdade de usar cores e texturas que nunca tive acesso na infância.

Que outras pessoas da nossa comunidade e de outras também possam conhecer e participar desse projeto.

O resumo dessa residência me fez gostar ainda mais de arte, conhecer artistas negros que são referências.

A arte transforma pensamentos em cores e ideias que damos o nome de “Obra”.

Por mais cursos de artes para que mais pessoas tenham a oportunidade que eu tenho hoje.”

 

“Meu nome é Silvana Regina Firmino do Nascimento.

Eu achei a reunião importante, onde podemos aprender sobre arte e artistas negros.

Onde vemos e discutimos como expor e quais os caminhos até a exposição.

Discutimos brevemente sobre como os negros foram e são oprimidos, as mulheres negras estupradas e assim surgiram a miscigenação das raças.

Vimos aqui obra dos artistas negros que está na apostila que nos foi dada.

Sou grata a Deus por nos dar a oportunidade de conhecer você Ivonete que dispôs a nos ensinar as técnicas da arte negra.

Estou amando aprender sobre símbolos e “aumejo” (almejo) aprender muito mais sobre pinturas naturais.”

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“Gostei foi bem interessante pois ela explicou com detalhes com “geitinho” que prendeu a nossa atenção.

Todos forão participativo e colaborarão com a apresentação.”

“SUGESTÕES

- EXPOR OBRA COLETIVA

- EXPOR OBRAS INDIVIDUAIS

- TALVEZ UMA PINTURA AO VIVO

- USO DE TINTAS NATURAIS

- ESPAÇO PARA CRIANÇAS FALAREM SOBRE SUAS MANEIRAS E VER O MUNDO”

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“Eu achei muito legal na minha opinião eu acho que seria legal fazer uma aula de artes aberta para todo mundo. Eu gostei da aula mais estou com preguiça de escrever

Alexia Mel”

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“Aula maravilhosa nada a reclamar – sobe o que falar uma visão ampla.

Aula bem explicada nada a reclamar.

Om ter pessoas que pensa na comunidade.

Alexandra

28/09/22.”

“Espero que as obras sejam reconhecidas por sua espontaneidade e diversidade de elementos.

·         Obras com materiais reciclados, como exemplo garrafas PET e outros elementos que podem ser encontrados nas ruas”

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“O acervo e trabalho apresentado é muito interessante, estou ansiosa para ver a composição final da exposição.

Sobre a organização da sugestão, acredito que seria muito potente apresentar o processo de trabalho de um jeito que pudéssemos observar as etapas. Talvez apresentar ao lado de cada obra finalizada uma foto e/ou um comentário que fale sobre os caminhos de produção e identificação da obra.

 

Que nossas narrativas sejam apresentadas por nós.”

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“Adorei a roda de conversa, foram levantados vários pontos importantes referente a miscigenação ao longo dos anos e como ela interferiu e interfere até hoje no contexto social. A não romantização desse tema foi recentemente exposta a mim através de estudo e eventos como esse, nossa estrutura ainda é racista. Porém, me enche o coração poder aprender de onde vim através da arte; de palavras “novas” como kizombá!

A Residência Artística trouxe perspectivas diferentes e individuais, ressaltando detalhes em cada frase.

Sobre a Exposição que ocorrerrá no museu, pensei que as bonecas bayomi podem agregar atrave´s de cenários distintos, que realcem a arte exposta em cada espaço, que falem entre si ou como foi dito conflitem.

Me coloco a disposição para ajudar, se possível.

Thayane Mendes

Obrigada pela troca!

Seu trabalho me encanta.”

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Avalio que  a Residência  Artística foi uma experiência maravilhosa de continuidade de nossas ações, apesar do recurso não ter sido suficiente para cobrir todas as despesas. Fiquei muito contente de poder ensinar um pouco do que aprendi para pessoas da nossa comunidade, que jamais teriam acesso a um trabalho de qualidade em arte e cultura que não ocorra pertinho da gente. Aprendi muito com elas também, porque uma coisa é a gente imaginar o que as pessoas do povo desejam, e outra é atender o que nos foi pedido. Esta audiência qualificada tem sido guia nas minhas ações de Produção e Fruição em Artes.

Outra reivindicação importante: É  preciso que parte do valor seja pago antes da execução da proposta. Financiar todo o trabalho para só depois receber o recurso tira a possibilidade de vários artistas e grupos participarem do Edital. Só posso propor ações assim, porque consigo parcerias para fechar outros contratos e de cada contrato reservo uma parte do recurso para ações futuras ou troco serviços com outros artistas, o que me impõe uma série de atividades extras.

Foi devido à adoção do Parque do Jardim Cambuci que pude conseguir 3 contratos com o SESC Thermas, recebi o recurso, guardei para financiar a Residência Artística. Não pode uma Política Pública existir desta maneira. Política Pública tem que necessariamente ser acessível e este Edital não é, principalmente para as pessoas mais jovens, que são justamente quem precisa de mais incentivo na área da Cultura. Vamos pensar em como democratizar de fato estes editais.