terça-feira, 26 de novembro de 2024

 

POÉTICAS DAS ÁGUAS


Processo criativo coletivo. Coordenação de Ivonete Aparecida Alves

18-99740-6152

 

 Local: Quintal do SESC Thermas de Pres. Prudente

                Em cartaz até janeiro de 2025.

 

Nesta intervenção, obras que se interligam para ilustrar o desejo de proteção das águas e da terra, com o uso da técnica da kizombagem, criada pela artista plástica Ivonete Aparecida Alves. Em espírito, o mergulho na arte de vários povos negros presentifica uma poética de cores, tecidos, contas, agulhas e arames torcidos, respostas e indagações sobre as histórias negras. As acolhidas transformam a história sankofando nas paredes, nos ares e outros espaços através da kizombagem.

Sem lamentações, esta técnica preenche fissuras e repõe beleza, utilizando sobras variadas. Reutiliza. É coleta do desprezo, de tudo que a Terra não pode se nutrir.


PROCESSO CRIATIVO DAS OBRAS

Em 2017 iniciei um trabalho criativo com a inspiração de artistas negres pindorâmicos e da diáspora africana. Impressionada com o trabalho de Mama Esther Mahlangu da etnia Ndebele da África do Sul, que pintou carros na Europa e nos EUA eu também planejava a pintura do corsinha e ficava olhando para os diversos materiais presentes no quintal de casa com a intenção de transformar todo aquele entulho em obras de artes.

As edições de Arte Malunga  depois as Residências Artísticas que aconteceram no Mocambo Nzinga deram resultados animadores. As obras produzidas para as residências artísticas resistindo ao tempo,  abriu caminhos para aplicar a técnica da kizombagem em outras instituições.

Assim, esta Exposição teve uma história de longo tempo, tempo sankofado: o tempo de me fazer artista nas pesquisas e experimentações; o tempo de ensinar e aprender o fazer artístico de outras pessoas e também o tempo de experimentarmos as mais diversas técnicas de montagem das obras.



 Obra em criação


Sandra e Sara no trabalho artístico




Obra na fase final de elaboração


Tinturas naturais na confecção de elementos das obras


Durante o planejamento de elaboração desta Exposição muitas ideias pululavam na minha mente, buscando valorizar o processo criativo. Algumas destas ideias estão diretamente relacionadas com o rio que passa escondido dentro do SESC Thermas de Presidente Prudente. Daí o título "Poéticas das Águas". Sinto uma enorme tristeza quando olho um rio doente. A tristeza é ainda maior quando este rio doente é retirado das vistas e das corporeidades vivas.

Então temperar as partes das peças com tituras naturais é nutrir de vida o lugar onde o rio deveria emergir.


Tintura com urucum
  





Tintura com açafrão





Tintura com flores de critória



A KizomBagem

 

Esta técnica artística possui três princípios básicos:

 

Ser produzida por pessoas negras;

 

Ter inspiração nas obras artísticas de pessoas negras brasileiras ou da diáspora africana;

 

Utilizar (prioritariamente)  sobras de processos produtivos.


A kizombagem, uma festa de surpresas arranjadas

Sobre as mesas, terrenos e muros

Sem Lamentações...

Preenche fissuras

Repõe belezuras um tanto de emoção

Kizombagem é uma técnica que usa elementos

Terra, cores, sobras e  até cimento

Sobre qualquer superfície abandonada

É a coleta do desprezo

De tudo que a Terra não pode se nutrir

Ela rejeita e nem sabe quanto na linha de Iroko: o tempo

Irá consumir... Se con- sumir

A Terra dá, a Terra quer de seu orgânico

O organismo vivo

A terra não quer as sobras humanas elaboradas em laboratório

Kizombagem se faz com mãos negras

Em processo juntinho

Com outras mãos negras

Malungas estas mãos de lá e pra cá

Preenche o portão

As telas das grades

Os aros da bicicleta

Os tampos das mesas, afasta a tristeza que o mundo nos dá

Evita o consumo

Evita as sobras que enchem os rios

De plástico, urros e frios

Calafrios do horror

Mas até quando tantas sobras

Algumas não dobram

Algumas só sobram

Indagando da artista

E agora?

Que obra de arte

É possível fazer

Antes que o mundo expulse você!




POÉTICAS DAS ÁGUAS

POÉTICAS DAS ÁGUAS


Um mito de Olocum repõe esta Orixá nas profundezas das águas

É metade mulher e metade peixe

Com a cauda bipartida na imagética iorubana

Ela é toda família, protege a família humana

Olocum protege os mares todos e leva suas águas para territórios de Nanã

E Nanã adentra as águas doces grandes de Yemanjá

E as águas de rios de Osun: irmã mas nova das duas

Olocum, Yemanjá, Nanã e Osun olocupretam territórios sobre a Terra de Onilé: a quem Olodumaré deixou o governo dos territórios de Ayé, a Terra.

 

OBRAS INSTALADAS NA EXPOSIÇÃO POÉTICAS DAS

ÁGUAS



Deusa Attie - peça produzida em cerâmica



                                                                                                    
Oxum - Osun sobre o Rio Escondido



                

Bará e elementos





Sobras que não irão para as águas sessão 1




Sobras que não irão para as águas Sessão 3

Esta obra chega a 3 metros de cumprimento, por isso as imagens foram capturadas por sessão. Ela foi instalada entre duas grandes malaleucas. Uma árvore originária da Austrália, que possui um tranco com uma casaca bem macia. Suas folhas produzem um óleo maravilhoso, com várias substâncias terapêuticas.









Yabás 

Esta obra tem Olocum, Yemanjá, Onilé, Oxum e elementos de várias Yabás. As Yabás são as grandes mães do povo negro de origem iorubana (nagô) por origem, ou na diáspora, por adoção.

As obras foram produzidas com diversas técnicas de trabalho como costura, colagem, emendas, bordado, crochê, etc.

Há componentes nas obras que foram produzidos na arte da costura que cuida de detalhes como mimos produzidos com fuxicos coloridos, babadinhos produzidos com rendas, fluflus coloridos de lãs e de linhas.

Na obra Yabás existe uma denúncia do que seja a apropriação cultural. Qual não foi minha surpresa ao encontrar no calcadão da cidade a estampa de uma capulana africana numa sacola de muamba feita de plástico.
a sacola estaa com defeito e então consegui adquiri-la por um preço módico para outra Ocupação Artística e sobrou retalhos. Produzimos bonecas Abayomis com as capulanas originais e as dispusemos próximas ao plástico da sacola de muamba.









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