POÉTICAS
DAS ÁGUAS
Processo criativo coletivo.
Coordenação de Ivonete Aparecida Alves
18-99740-6152
Local: Quintal do SESC Thermas de Pres. Prudente
Em cartaz até janeiro de 2025.
Nesta intervenção, obras que se
interligam para ilustrar o desejo de proteção das águas e da terra, com o uso
da técnica da kizombagem, criada pela artista plástica Ivonete Aparecida Alves.
Em espírito, o mergulho na arte de vários povos negros presentifica uma poética
de cores, tecidos, contas, agulhas e arames torcidos, respostas e indagações
sobre as histórias negras. As acolhidas transformam a história sankofando nas
paredes, nos ares e outros espaços através da kizombagem.
Sem lamentações, esta técnica preenche fissuras e repõe beleza, utilizando sobras variadas. Reutiliza. É coleta do desprezo, de tudo que a Terra não pode se nutrir.
PROCESSO CRIATIVO DAS OBRAS
Em 2017 iniciei um trabalho criativo com a inspiração de artistas negres pindorâmicos e da diáspora africana. Impressionada com o trabalho de Mama Esther Mahlangu da etnia Ndebele da África do Sul, que pintou carros na Europa e nos EUA eu também planejava a pintura do corsinha e ficava olhando para os diversos materiais presentes no quintal de casa com a intenção de transformar todo aquele entulho em obras de artes.
As edições de Arte Malunga depois as Residências Artísticas que aconteceram no Mocambo Nzinga deram resultados animadores. As obras produzidas para as residências artísticas resistindo ao tempo, abriu caminhos para aplicar a técnica da kizombagem em outras instituições.
Assim, esta Exposição teve uma história de longo tempo, tempo sankofado: o tempo de me fazer artista nas pesquisas e experimentações; o tempo de ensinar e aprender o fazer artístico de outras pessoas e também o tempo de experimentarmos as mais diversas técnicas de montagem das obras.
A KizomBagem
Esta técnica artística possui três princípios
básicos:
Ser produzida por pessoas negras;
Ter inspiração nas obras artísticas de pessoas negras
brasileiras ou da diáspora africana;
Utilizar (prioritariamente) sobras de processos produtivos.
A kizombagem, uma festa de surpresas arranjadas
Sobre as
mesas, terrenos e muros
Sem
Lamentações...
Preenche
fissuras
Repõe belezuras um tanto de emoção
Kizombagem é
uma técnica que usa elementos
Terra, cores,
sobras e até cimento
Sobre qualquer
superfície abandonada
É a coleta do
desprezo
De tudo que a
Terra não pode se nutrir
Ela rejeita e
nem sabe quanto na linha de Iroko: o tempo
Irá consumir...
Se con- sumir
A Terra dá, a
Terra quer de seu orgânico
O organismo
vivo
A terra não
quer as sobras humanas elaboradas em laboratório
Kizombagem se
faz com mãos negras
Em processo
juntinho
Com outras
mãos negras
Malungas estas
mãos de lá e pra cá
Preenche o
portão
As telas das
grades
Os aros da
bicicleta
Os tampos das
mesas, afasta a tristeza que o mundo nos dá
Evita o
consumo
Evita as
sobras que enchem os rios
De plástico,
urros e frios
Calafrios do
horror
Mas até quando
tantas sobras
Algumas não
dobram
Algumas só sobram
Indagando da
artista
E agora?
Que obra de
arte
É possível
fazer
Antes que o mundo expulse você!
POÉTICAS
DAS ÁGUAS
Um mito de
Olocum repõe esta Orixá nas profundezas das águas
É metade
mulher e metade peixe
Com a cauda
bipartida na imagética iorubana
Ela é toda
família, protege a família humana
Olocum protege
os mares todos e leva suas águas para territórios de Nanã
E Nanã adentra
as águas doces grandes de Yemanjá
E as águas de
rios de Osun: irmã mas nova das duas
Olocum,
Yemanjá, Nanã e Osun olocupretam territórios sobre a Terra de Onilé: a quem
Olodumaré deixou o governo dos territórios de Ayé, a Terra.
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