ABRE ALAS NEGRITUDE: A EXPOSIÇÃO NO MUSEU HISTÓRICO DE PRESIDENTE PRUDENTE - DE 01 ATÉ 30 DE NOVEMBRO DE 2023
Acervo
“ABRE ALAS NEGRITUDE”
Proposta: Ivonete Ap. Alves
Equipe:
Agnaldo Júlio de Paiva; Silvana Regina Fermino do Nascimento;
Alexandra Ribeiro do Nascimento; Sandra Aparecida Paulino; Alícia Vitória
Fermino do Nascimento; Alexia Mel do Nascimento Brito; Saymon Augusto do
Nascimento Paulino e Silas Ramon do Nascimento Paulino.
Proposta:
Com base na produção, curadoria e exercícios de fazer
artístico elaborando obras de arte individuais e coletivas que tenham como
inspiração outras mulheres e homens artistas negres do Brasil, africanes e de
outras diásporas como Mama Esther Mahlangu, Arthur Bispo do Rosário, El
Anatsui, Nenê Surreal, Maria Auxiliadora, Ayeola Moore, Barbara Chase Riboud,
Renata Felinto dos Santos, Rosana Paulino, Lois Mailou Jones Howard, Mickalene
Thomas, Laura Wheeler, Edwige Aplogan e Ayrson Heráclito e Jader Esbell Makuxi
(indígena).
Obras produzidas com exercícios livres de desenho e pintura no
início e depois direcionada para inspirações definidas.
Símbolos adinkras: Foram muito utilizados em várias propostas
de pintura.
RELATO:
A exposição ficou em cartaz até o dia 06 de novembro devido a alguns fatos importantes. Minha mãe Maria Alves faleceu em Garça/SP no dia 29 de novembro e tivemos de ir para o velório e enterro dela. Assim foi preciso ir buscar a Exposição na semana seguinte. Ocorre que no primeiro final de semana de dezembro houve uma série de eventos no Museu, o que possibilitou a visita de outras pessoas que lá compareceram nos eventos do final de semana.
Nós tivemos uma inauguração festiva também no dia 05 de novembro, contando com os doces de Selma, outra malunga do Mocambo que não pode participar diretamente das aulas de artes na Residência.
1-DETALHE COMO SE DEU A EXECUÇÃO DA
ATIVIDADE ((Descreva a (s) principal (s) atividade (s)
realizada (s) no projeto, identificando
o conteúdo, tempo de duração, público-alvo, objetivo alcançado, metas e outras
informações específicas importantes, de acordo com o previsto no projeto.
As
aulas foram preparadas para que o grupo de artistas tivesse contado com várias
técnicas de produção, antes de chegar ao cerne da proposta, que foi ensinar a
kizombagem, uma técnica artística com alguns princípios de execução.
As
aulas foram combinadas para acontecerem aos sábados e já no primeiro encontro
vimos a necessidade de aumentar os encontros, para trabalhar em técnicas
diferenciadas.
Este
fato foi notório no momento de distribuição da Apostila (cada participante
recebeu a sua) e também dos materiais que compuseram um kit de aprendizado, com
material para Desenho
(incluindo Folha de papel machê), Papel machê com fibras e durante o curso
aprendemos as técnicas da Modelagem; Escultura em papel machê; Usos de sementes
e folhas nas instalações; Desenho e pintura de paisagens naturais; Tinturas naturais:
açafrão, urucum, hibisco roxo, terras, folhas, extrato de nogueira e jambolão.
Isto
porque a técnica da kizombagem exige que várias outras técnicas possam ser combinadas, pois o princípio do trabalho é reutilizar o máximo de material, aproveitando também os disponíveis na natureza e particularmente na área do Mocambo.
Kit
recebido por cada participante:
Ao
receber seus materiais houve uma surpresa muito grande, principalmente das
pessoas adultas, pois para que a Residência Artística tivesse sucesso optamos
por selecionar algumas famílias que já participam das atividades do Mocambo Nzinga
preparando um sucesso na Exposição.
O
primeiro exercício proposto foi o de conhecer os resultados dos diferentes
materiais que cada participante recebeu. Sugeri a divisão de uma página de
papel coucher em 6 partes e em cada parte utilizar um tipo de material de
desenho e/ou pintura: lápis de cor, giz pastel, giz pastel oleoso, canetinha,
tinta guache, tinta acrílica profissional, tinta aquarelável, tinturas naturais,
etc.
Neste
processo de propor o estudo da ancestralidade negra houve um interesse
surpresa: os adinkras. Eu não tinha previsto que o grupo pudesse ficar tão
interessado nesta simbologia africana e assim tive que providenciar uma cópia
de alguns dos significados dos símbolos adinkras e várias vezes compartilhei
meu livro sobre os adinkras para que pudessem estudar.
O
Silas escolheu a AYA – folha da samambaia para colocar em sua obra. A Mel
escolheu o Sankofa e a Silvana fez uma tela inteira com símbolos adinkras.
Recuperei
um arquivo de uma Oficina chamada “Carimbando adinkras” que coordenei no SESC
Thermas para compartilhar o arquivo em papel com o grupo.
Carimbando
Adinkras: Uma oficina
afro-brasileira Adinkras são
símbolos que representam milhares de
anos da cultura africana. Conta a
história, que sua organização atual teve início quando o Rei Kofi Adinkra de
Gyaaman, (hoje uma região da Costa do Marfim) copiou um banco do
Rei dos Asanthene. Este banco
era o símbolo da realeza e a cópia acabou provocando uma guerra. Pela sua
audácia, o Rei Kofi perdeu a cabeça, que foi levada como troféu, mas teve sua cultura reconhecida e seu nome foi dado aos
símbolos encontrados nas suas terras, como homenagem pela sua espetacular
liderança. |
SÍMBOLOS ADINKRAS |
|
SANKOFAS
Se wo were fi na wo sankofa a yenkyi. Nunca é
tarde para voltar e apanhar o que ficou para trás. OU: Ter os
pés no presente, indo em frente, sem esquecer o passado. |
|
|
Mocambo APNs Nzinga AfroBrasil – Arte –
Educação – Cultura. Rua Amélia Sanches Matheus, 305 – Jardim
Cambuci – Pres. Prudente/SP – Brasil - (18) 99740-6152 |
O
folder, com os desenhos e a descrição de 10 símbolos adinkras possibilitou o
reconhecimento desta importante HERANÇA dos povos negros. E também despertou muito
interesse um símbolo africano que foi roubado pelos nazistas: o símbolo adinkra
Nkotimsefo Mpua. Há dois formatos dele: um em linhas retas e outro em linhas
circulares.
O penteado dos atendentes da corte
Símbolo
de serviço e lealdade. Baseado no penteado cerimonial dos atendentes da corte real.
Também simboliza as essências feminina e masculina da vida – a dualidade da
essência da vida.
Conversamos sobre a proibição oficial do uso
da “suástica” porque acabou ficando conhecida como o símbolo de um crime contra
a humanidade. O argumento do Saymon foi de que é um símbolo do povo preto e que
está errado a gente não poder usar. Assim, orientei para que ele cobrisse o
símbolo africano com um tecido escrito: “Este símbolo foi roubado pelos
brancos”.
2- AVALIAÇÃO DO PROJETO (
(Informe como o projeto foi realizado; pontos positivos e negativos, sugestões e resultados alcançados )
A
proposta de escrita do Projeto foi pautada em pedidos de pessoas das
comunidade. Desta maneira a gente ficou atenta para a oportunidade de atender
as demandas, sempre muito constante, de pedidos das pessoas da comunidade para
que a gente execute propostas onde elas possas participar.
Não
só demandas da comunidade mais diretamente envolvida, mas também de outras
pessoas artistas que entram em contato com minhas produções de obras de arte,
como também para processos de Curadoria e Produção.
Pedi
para que as pessoas elaborassem a Avaliação que reproduzo abaixo:
“Africanizando
Uma
visão maravilhosa sobre a liberdade de criação a partir de técnicas ensinadas.
Uma
oportunidade única dessa residência me deu a alegria e liberdade de usar cores e
texturas que nunca tive acesso na infância.
Que
outras pessoas da nossa comunidade e de outras também possam conhecer e
participar desse projeto.
O
resumo dessa residência me fez gostar ainda mais de arte, conhecer artistas
negros que são referências.
A
arte transforma pensamentos em cores e ideias que damos o nome de “Obra”.
Por
mais cursos de artes para que mais pessoas tenham a oportunidade que eu tenho
hoje.”
“Meu
nome é Silvana Regina Firmino do Nascimento.
Eu
achei a reunião importante, onde podemos aprender sobre arte e artistas negros.
Onde
vemos e discutimos como expor e quais os caminhos até a exposição.
Discutimos
brevemente sobre como os negros foram e são oprimidos, as mulheres negras
estupradas e assim surgiram a miscigenação das raças.
Vimos
aqui obra dos artistas negros que está na apostila que nos foi dada.
Sou
grata a Deus por nos dar a oportunidade de conhecer você Ivonete que dispôs a
nos ensinar as técnicas da arte negra.
Estou
amando aprender sobre símbolos e “aumejo” (almejo) aprender muito mais sobre
pinturas naturais.”
---------------------------------------
“Gostei
foi bem interessante pois ela explicou com detalhes com “geitinho” que prendeu
a nossa atenção.
Todos
forão participativo e colaborarão com a apresentação.”
“SUGESTÕES
-
EXPOR OBRA COLETIVA
-
EXPOR OBRAS INDIVIDUAIS
-
TALVEZ UMA PINTURA AO VIVO
-
USO DE TINTAS NATURAIS
-
ESPAÇO PARA CRIANÇAS FALAREM SOBRE SUAS MANEIRAS E VER O MUNDO”
-----------------------------------------
“Eu
achei muito legal na minha opinião eu acho que seria legal fazer uma aula de
artes aberta para todo mundo. Eu gostei da aula mais estou com preguiça de
escrever
Alexia
Mel”
------------------------------------
“Aula
maravilhosa nada a reclamar – sobe o que falar uma visão ampla.
Aula
bem explicada nada a reclamar.
Om
ter pessoas que pensa na comunidade.
Alexandra
28/09/22.”
“Espero
que as obras sejam reconhecidas por sua espontaneidade e diversidade de
elementos.
·
Obras com materiais reciclados, como exemplo
garrafas PET e outros elementos que podem ser encontrados nas ruas”
----------------------------------
“O
acervo e trabalho apresentado é muito interessante, estou ansiosa para ver a
composição final da exposição.
Sobre
a organização da sugestão, acredito que seria muito potente apresentar o
processo de trabalho de um jeito que pudéssemos observar as etapas. Talvez
apresentar ao lado de cada obra finalizada uma foto e/ou um comentário que fale
sobre os caminhos de produção e identificação da obra.
Que
nossas narrativas sejam apresentadas por nós.”
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“Adorei
a roda de conversa, foram levantados vários pontos importantes referente a
miscigenação ao longo dos anos e como ela interferiu e interfere até hoje no
contexto social. A não romantização desse tema foi recentemente exposta a mim
através de estudo e eventos como esse, nossa estrutura ainda é racista. Porém,
me enche o coração poder aprender de onde vim através da arte; de palavras
“novas” como kizombá!
A
Residência Artística trouxe perspectivas diferentes e individuais, ressaltando
detalhes em cada frase.
Sobre
a Exposição que ocorrerrá no museu, pensei que as bonecas bayomi podem agregar
atrave´s de cenários distintos, que realcem a arte exposta em cada espaço, que
falem entre si ou como foi dito conflitem.
Me
coloco a disposição para ajudar, se possível.
Thayane
Mendes
Obrigada
pela troca!
Seu
trabalho me encanta.”
-------------------------------------------------------
Avalio
que a Residência Artística foi uma experiência maravilhosa de
continuidade de nossas ações, apesar do recurso não ter sido suficiente para
cobrir todas as despesas. Fiquei muito contente de poder ensinar um pouco do
que aprendi para pessoas da nossa comunidade, que jamais teriam acesso a um
trabalho de qualidade em arte e cultura que não ocorra pertinho da gente.
Aprendi muito com elas também, porque uma coisa é a gente imaginar o que as
pessoas do povo desejam, e outra é atender o que nos foi pedido. Esta audiência
qualificada tem sido guia nas minhas ações de Produção e Fruição em Artes.
Outra
reivindicação importante: É preciso que parte do valor seja pago antes da
execução da proposta. Financiar todo o trabalho para só depois receber o
recurso tira a possibilidade de vários artistas e grupos participarem do
Edital. Só posso propor ações assim, porque consigo parcerias para fechar
outros contratos e de cada contrato reservo uma parte do recurso para ações
futuras ou troco serviços com outros artistas, o que me impõe uma série de
atividades extras.
Foi
devido à adoção do Parque do Jardim Cambuci que pude conseguir 3 contratos com o
SESC Thermas, recebi o recurso, guardei para financiar a Residência Artística.
Não pode uma Política Pública existir desta maneira. Política Pública tem que
necessariamente ser acessível e este Edital não é, principalmente para as
pessoas mais jovens, que são justamente quem precisa de mais incentivo na área
da Cultura. Vamos pensar em como democratizar de fato estes editais.
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