segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

 

Afrocentricidade e psicoaromoterapia

 



São dois campos de conhecimento que só encontra possibilidade de existência nas atividades afrocentradas cotidianas. De forma geral as discussões filosóficas sobre afrocentricidade ficam restritas nas áreas circunscritas das universidades, e mesmo assim em alguns grupos de pesquisa, sejam organizados pelas professoras ou alunes negres comprometidos com a causa.

 

Aqui no Mocambo Nzinga nós trabalhos com questões urgentes e atendemos demandas que nos são impostas pelas pessoas com as quais entramos em contato em muitas ambiências onde nós atuamos. Esta atuação nos solicitou a produção de óleos essenciais através de tecnologias ancestrais, com plantas que cultivamos ou cultivadas por parcerias de extrema confiança. Sabemos exatamente de onte são extraídas as folhas e partes vegetais das plantas que utilizamos.

 

Os métodos convencionais de produção dos óleos essenciais impõem um ritmo de produção, colheita e extração do óleo que não permitem a ação energética da pessoa produtora do óleo, que no caso da afrocentricidade é a gente mesma.

 

Em toda etapa de produção há um campo energético pessoal, de propósito de tratamento e cura exigentes com a demanda da espiritualidade negra ancestral que nos acompanha, com uma equipe de trabalho de seres pindorâmicos, conhecedores do território em uma profundidade que possibilita a interação na terapia com estes óleos produzidos.

 

     

                                                              


Os princípios da aromoterapia afrocentrada

 

Basicamente, a aromoterapia atua em campos energéticos guiados por um processo intencional que correlaciona a psicologia, a terapia integrativa e a utilização dos óleos essências ou das seivas extraídas das plantas por outros sistemas. A atuação sensorial é de fundamental importância no sucesso do tratamento.

 


Assim, na afrocentricidade a aromoterapia deve:

1.      Basear sua atuação em óleos e extratos cultivados de forma agroecológica e em áreas protegidas de contaminação;

2.      Ter o acompanhamento desde plantio e em casos de coleta externa virem de áreas próximas à reservas florestais naturais, garantindo assim a biodiversidade natural nas interações de produção das essências que serão utilizadas na terapia;

3.      Extrair os princípios terapêuticos das plantas, observando o período de coleta das folhas, galhos e flores, de forma que exista o maior concentração possível de ativos biodinâmicos no produto final.

Óleos essenciais  que já produzimos e suas funções principais:

 

1.         AlecrimRosmarinus officinalisAntioxidante, cicatrizante, diurética, estimulante.

2.         Alfavaca: Analgésica, Antimicrobiana, Antifúngica, Anestésica, Imunoestimulante, Antioxidante.

3.         Assa peixe: Vernonia pholysphaera. Combate afecções na pele, bronquite, cásculos renais, retenções de líquido, c´calculos e tosse. Contra pneumonia.

4.         Camomila: Matricaria Chamomila L.   Aliviar dores de cabeça, dentes, ouvidos e musculares, combater enjoos, cólicas, diarreias e gases, aliviar articulações inflamadas, combater a insônia, tensão pré-menstrual, estresse e ansiedade, aliviar vermelhidão, queimação, dor, prurido e congestão, aliviar desconfortos e resgatar o bem-estar em caso de alergias de pele ou respiratórias. Tem efeito calmante e sedativo, agindo positivamente sobre irritabilidade, choque nervoso e insônia; Atua positivamente sobre a depressão, ansiedade e apatia; ajuda a lidar com sentimentos de raiva, especialmente em crianças, promovendo tranquilidade; Proporciona uma sensação de segurança e acolhimento e ajuda a estabilizar o sistema nervoso central.

5.         Canela - Cinnamomum verum. Combate às cáries, estimulante para o cérebro, ajuda com problemas respiratórios, previne doenças cardíacas, previne infecções, auxilia na amamentação, reduz a dor da artrite, melhora a digestão, combate infecções urinárias, alivia resfriados, alivia dores de cabeça e enxaquecas, reduz o colesterol e uxilia na perda de peso.

6.         Capim santo - Cymbopogon citratus . Calmante e relaxante, Sedativo, Anti-inflamatório, Antisséptico, Antibacteriano, Antifúngico, Analgésico.

7.         Crajiru - Arrebidaea chica Verlot. Infecções de origem uterinas. O chá das folhas combate males do fígado, estômago e intestino, servindo para diarréias, leucemia, lavagem de feridas e atua também nos casos de anemias.

8.         Cravo - Syzygium aromaticum.  Anti-inflamatória (leve), analgésica, antioxidante, digestiva, antidiarreica, antiemética (evita náuseas) e carminativa.

9.         Embaúba - Cecropia hololeuca Miquel. Hipotensora, diurética, anti-inflamatória (leve) e

Antioxidante.

10.       Erva baleeira - Cordia verbenácea. Anti-inflamatórias, analgésicas, antiartríticas, tônicas, antiulcerogênicas, diurética (leve) e antinoceciptiva

11.       Erva de bicho – (quebra demanda) Polygonum acre H. Adstringente, febrífuga, diurética, anti-hemorroidária, anti-inflamatória, hemostática hipotensora, antimicrobiana.

12.       Erva doce: Alivia cólicas menstruais, regula o ciclo menstrual, alivia sintomas da TPM e menopausa

estimula a produção de leite materno, alivia náuseas e vômitos, auxilia em casos de constipação, trata celulite

alivia dores e desconfortos estomacais, auxilia em casos de retenção de líquidos. Benefícios emocionais: Fortalece a autoestima, Estimula a comunicação e a expressão, Ajuda a tratar timidez e insônia, Promove confiança e perseverança, Equilibra o humor.

13.       Eucalipto: Eucalyptus globulus Labill  - Para problemas respiratórios como gripes, resfriados, sinusites e rinites. Possui ação antisséptica, anti-inflamatória e cicatrizante.

14.       Guaco: Analgésica, sudorífica, antitérmica, antiofídica, depurativa, tônica, antialérgica suave, antisséptica das vias respiratórias, desintoxicante, antimicrobiana, bactericida (contra Escherichia coli e Staphylococcus aureus), antiparasitária.

15.       Hortelã comum: Mentha piperita.

16.       Hortelã gorda:  Mentha piperita. Vasoconstritor, analgésico, anti-inflamatório, carminativo, cefálico e bactericida.

17.       Jatobá (casca)  : Hymenaea courbaril. Dores de cabeça, problemas intestinais, equilibra a homeostase, é um bálsamo geral para o corpo. Eficiente para dor lombares.

18.       Lavanda (lavandim): Lavandula dentata. Aliviar dores de cabeça, enxaquecas e tensões musculares

Combater a insônia, o estresse e a depressão, Curar irritações da pele, acne, queimaduras e picadas de insetos

Promover o crescimento das células e a formação de pele nova e saudável, Aliviar sintomas de asma, congestão dos brônquios, resfriados, gripes e dor de garganta.

19.       Lipia alba - Combater a insônia, aliviar a tosse, combater a retenção de líquidos, combater a indigestão e flatulência, combater a ansiedade, o nervosismo e a inquietação, combater a asma e combater o alcoolismo.

20.       Manga ubá: Possui fortes propriedades anti-inflamatórias e regeneradoras, antioxidantes, antiespasmódicas, hipoglicemiantes e anti-inflamatórias. Por seus compostos as propriedades da manga ubá ajudam no emagrecimento.

21.       Manjericão: Ocimum basilicum, L. Para tratar dores de cabeça, tosses, diarreia, constipação, gripes e resfriados,  aftas, gengivite, dor de garganta e amigdalite. Também é útil no controle da pressão arterial e do açúcar no sangue. Melhora a função respiratória e reduz crises de asma.

22.       Mastruz: Chenopodium ambrosioides. Efeitos contra a Leishmania sp., Helicobacter pylori, Giardia lamblia e Schistosoma mansoni, anti-inflamatória, ansiolítica e antipirética, ação antibiótica nas infecções do trato respiratório e a atuação contra a epilepsia. Contra doenças inflamatórias, parasitárias e microbiológicas

23.       Pimenta de macaco: Piper aduncum.  Inseticida, diurético, cicatrizante e anti-inflamatório. Para tratar hemorragias e úlceras, doenças genitais e urinárias, , feridas, combater alergias, coceiras e picadas de insetos,  tratar diabetes, para tratar hipertensão e problemas estomacais.

24.       Pimenta rosa: Schinus terebinthifolia Raddi.      Anti-inflamatório e cicatrizante, dstringente,  e antisséptica, contra H. pilori, gastrite, úlcera e inflamações.

25.       Titônia: Mirasolia diversifolia Hemsl. Tratamento de distúrbios gástricos e hepáticos e como anti-inflamatória. Usado para atenuar a síndrome de abstinência a drogas psicotrópicas em dependentes químicos, como álcool e tabaco e outras.

 

Fontes de pesquisa:

 Horto didático das plantas medicinais: https://hortodidatico.ufsc.br/

https://br.linkedin.com/in/aza-njeri

https://www.tuasaude.com/aromaterapia/


Tese de Doutorado de Ivonete Aparecida Alves: 

  • ALVES, Ivonete Aparecida. Mulheres negras sankofando no Mocambo Nzinga. 2022. 1 recurso online (360 p.) Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação, Campinas, SP. Disponível em: https://hdl.handle.net/20.500.12733/9888. Acesso em: 11 fev. 2025.

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

 

Mio de grilho (Lantana trifolia L); Melissa (Melissa officinalis) e Lipia Alba

Aulão de fevereiro de 2025 - Parque do Jardim Cambuci - Presidente Prudente/SP


Mio de grilo                                               Melissa oficinalis

      


Lipia Alba

   

Estas plantas estão na mesa aula porque possuem características visuais em comum e várias pessoas  confundem estas plantas.

Segundo a literatura científica o milho-de-grilo é utilizado como planta medicinal pela população de vários países. Dentre os usos na medicina popular destacam-se a utilização contra gripe, asma, reumatismo, indigestão, micoses, malária, febre amarela, tosse, leishmaniose, tuberculose, gonorreia, como calmante e anti-inflamatório.


Mio de grilho (Lantana trifolia L)

As suas sementes quando roxas são comumente relatadas como comestíveis e de sabor doce, embora até a data dessa publicação não tenham sido encontrados estudos que indiquem a segurança para consumo dos frutos e outras partes da planta. Sendo assim, e visto que várias espécies do gênero Lantana possuem alguma toxicidade nas suas folhas. Acontece que as nossas gerações mais velhas comeram muito, eu também comi e deu para minha filha. então temos a prática do consumo tradicional das lindas bolinhas do mio de grilo.

 A planta de nome popular milho-de-grilo é um subarbusto nativo do Brasil e com ampla distribuição pelo país. Algumas informações foram consultadas na Tese com o título             “Estudo químico e avaliação do potencial antifúngico das folhas e frutos de Lantana trifolia L. (Verbenaceae)”      de autoria "VALERIO, Gaveni Barbosa" -  Primeira Orientadora:    PIVATTO, Amanda Danuello (https://bdtd.uftm.edu.br/handle/tede/521) . Tese apresentada na Universidade Federal do Triângulo mineiro.


Nome científico: Melissa officinalis L.

Sinonímia Científica: Melissa altissima Sibth e Sm.; Melissa cordifolia Pers.; Melissafoliosa Opiz.; Melissa graveolens Host.; Melissa hirsuta Hornens.; Melissa occidentalis Rafin.; Melissa romana Mill. Melissa bicornis Klokov.

Nome popular: Melissa, Melissa Verdadeira e Erva Cidreira.Família: Lamiaceae.

Parte Utilizada: Folhas e ramos.

Composição Química: Padronizado em 5% de Ácido Rosmarinico, Óleo Essencial: linalol, nerol, geraniol, citronelol, α-terpineol, terpineno-1-4-ol, neral, geranial, cariofilenol, farnesol, 10-epi-α-cadinol, α-cubebeno, α-copaeno, β-burboneno, βcariofileno, α-humuleno, 1,8-cineol, óxido de cariofileno e ocimenos; Flavonóides:luteolol-7-glicosídeo, ramnocitrosídeo, apigenina e quercitrosídeo; Ácidos Carboxílicos: cafêico, clorogênico, elágico e rosmarínico; Taninos; Princípio Amargo; Mucilagens Urônicas.

É indicada na inapetência (ausência do apetite), gastrite, espasmos gastrintestinais, disquinesias hepatobiliares, meteorismo (presença exacerbada de gases no trato gastrointestinal), coleocistites, diarréias, ansiedade, insônia, hipertensão arterial, taquicardia, enxaqueca, asma, dismenorréia, em feridas, hipertiroidismo e herpes simples. Também apresenta efeito sedativo e ligeiramente hipnótico, e antioxidante. O ácido rosmarínico presente no extrato é um dos principais componentes responsável resposta farmacológica da Melissa officinalis.

Efeito antiviral: Um ensaio clínico duplo-cego, randomizado e controlado com placebo, avaliou o efeito antiviral do extrato aquoso de Melissa officinalis em 116 pacientes com infecção de HSV (herpes) da pele ou da mucosa de transição. Houve melhora estatisticamente significativa do grupo tratamento em relação ao grupo placebo.

Efeito sedativo: M. officinalis pode modular várias medidas de comportamento, como um moderado sedativo em transtorno do sono, na atenuação de sintomas de desordens nervosas, inclusive a redução de excitabilidade, ansiedade e tensão. Em estudo pré-clínico em camundongos, foi administrado um extrato hidroalcoólico de folhas de M.oficinalis, houve redução significativa da atividade comportamental em dois testes em comparação com o controle, o que sugere que o extrato apresenta efeito sedativo.

 

 A Lippia alba, espécie nativa do continente americano, é conhecida mundialmente por suas propriedades medicinais. De plantio fácil e econômico, a planta, também chamada de erva-cidreira, melissa, salva-limão e alecrim-do-campo, produz óleos essenciais usados na fabricação de produtos de perfumaria e cosméticos. Suas folhas estão presentes em chás, compressas, banhos e xaropes.

 

Lipia Alba 

Seu nome é uma homenagem ao médico, botânico e naturalista francês Augustin Lippi (1678-1704), daí o “Lippia”. “Alba” vem do latim, albus, em referência às flores brancas. Em algumas regiões, a planta é conhecida como falsa-melissa, por sua semelhança morfológica com a erva-cidreira, a Melissa officinalis L. Na nossa região há a variedade da Lipia com flores lilases.

Características:  Essa planta apresenta propriedades calmantes e aromáticas, é perene e muito ramificado, apresentando brotações eretas que se curvam conforme o desenvolvimento da planta, atingindo o solo e se enraizando. As moitas do arbusto variam entre 1,5 a 2 metros de altura. Suas folhas são pecioladas, com lâmina cartácea, ovada, elíptica ou lanceolada, opostas, inteiras, de bordos serreados e ápice agudo. Apresenta flores azuis-arroxeadas em inflorescências axilares capituliforme, com eixo curto e tamanho variável. Já seus frutos são do tipo drupa e dão globosas de cor rosada a arroxeada.

 Originária da América do Sul, ocorrendo principalmente na Venezuela, Equador, Peru, Bolívia, Brasil e Argentina. Também pode ser encontrada no sul dos Estados Unidos, México e nas Antilhas. Cultivada para fins medicinais, cosmecêuticos, ornamentais e culinários. Suas principais indicações são: sedativa, antiespasmódica, antidispéptica, antitérmica, antiviral, antibacteriana, antiparasitária, antisséptica, hipotensora, cardiotônica, expectorante, anti-inflamatória, analgésica, antinociceptiva, anticonvulsivante e cicatrizante.

O óleo essencial de Lipia Alba tem um cheiro maravilhoso e é a planta da calmaria. A que serve para aliviar as dores da alma e abrir espaço para o perdão.

 

 



terça-feira, 26 de novembro de 2024

 

POÉTICAS DAS ÁGUAS


Processo criativo coletivo. Coordenação de Ivonete Aparecida Alves

18-99740-6152

 

 Local: Quintal do SESC Thermas de Pres. Prudente

                Em cartaz até janeiro de 2025.

 

Nesta intervenção, obras que se interligam para ilustrar o desejo de proteção das águas e da terra, com o uso da técnica da kizombagem, criada pela artista plástica Ivonete Aparecida Alves. Em espírito, o mergulho na arte de vários povos negros presentifica uma poética de cores, tecidos, contas, agulhas e arames torcidos, respostas e indagações sobre as histórias negras. As acolhidas transformam a história sankofando nas paredes, nos ares e outros espaços através da kizombagem.

Sem lamentações, esta técnica preenche fissuras e repõe beleza, utilizando sobras variadas. Reutiliza. É coleta do desprezo, de tudo que a Terra não pode se nutrir.


PROCESSO CRIATIVO DAS OBRAS

Em 2017 iniciei um trabalho criativo com a inspiração de artistas negres pindorâmicos e da diáspora africana. Impressionada com o trabalho de Mama Esther Mahlangu da etnia Ndebele da África do Sul, que pintou carros na Europa e nos EUA eu também planejava a pintura do corsinha e ficava olhando para os diversos materiais presentes no quintal de casa com a intenção de transformar todo aquele entulho em obras de artes.

As edições de Arte Malunga  depois as Residências Artísticas que aconteceram no Mocambo Nzinga deram resultados animadores. As obras produzidas para as residências artísticas resistindo ao tempo,  abriu caminhos para aplicar a técnica da kizombagem em outras instituições.

Assim, esta Exposição teve uma história de longo tempo, tempo sankofado: o tempo de me fazer artista nas pesquisas e experimentações; o tempo de ensinar e aprender o fazer artístico de outras pessoas e também o tempo de experimentarmos as mais diversas técnicas de montagem das obras.



 Obra em criação


Sandra e Sara no trabalho artístico




Obra na fase final de elaboração


Tinturas naturais na confecção de elementos das obras


Durante o planejamento de elaboração desta Exposição muitas ideias pululavam na minha mente, buscando valorizar o processo criativo. Algumas destas ideias estão diretamente relacionadas com o rio que passa escondido dentro do SESC Thermas de Presidente Prudente. Daí o título "Poéticas das Águas". Sinto uma enorme tristeza quando olho um rio doente. A tristeza é ainda maior quando este rio doente é retirado das vistas e das corporeidades vivas.

Então temperar as partes das peças com tituras naturais é nutrir de vida o lugar onde o rio deveria emergir.


Tintura com urucum
  





Tintura com açafrão





Tintura com flores de critória



A KizomBagem

 

Esta técnica artística possui três princípios básicos:

 

Ser produzida por pessoas negras;

 

Ter inspiração nas obras artísticas de pessoas negras brasileiras ou da diáspora africana;

 

Utilizar (prioritariamente)  sobras de processos produtivos.


A kizombagem, uma festa de surpresas arranjadas

Sobre as mesas, terrenos e muros

Sem Lamentações...

Preenche fissuras

Repõe belezuras um tanto de emoção

Kizombagem é uma técnica que usa elementos

Terra, cores, sobras e  até cimento

Sobre qualquer superfície abandonada

É a coleta do desprezo

De tudo que a Terra não pode se nutrir

Ela rejeita e nem sabe quanto na linha de Iroko: o tempo

Irá consumir... Se con- sumir

A Terra dá, a Terra quer de seu orgânico

O organismo vivo

A terra não quer as sobras humanas elaboradas em laboratório

Kizombagem se faz com mãos negras

Em processo juntinho

Com outras mãos negras

Malungas estas mãos de lá e pra cá

Preenche o portão

As telas das grades

Os aros da bicicleta

Os tampos das mesas, afasta a tristeza que o mundo nos dá

Evita o consumo

Evita as sobras que enchem os rios

De plástico, urros e frios

Calafrios do horror

Mas até quando tantas sobras

Algumas não dobram

Algumas só sobram

Indagando da artista

E agora?

Que obra de arte

É possível fazer

Antes que o mundo expulse você!




POÉTICAS DAS ÁGUAS

POÉTICAS DAS ÁGUAS


Um mito de Olocum repõe esta Orixá nas profundezas das águas

É metade mulher e metade peixe

Com a cauda bipartida na imagética iorubana

Ela é toda família, protege a família humana

Olocum protege os mares todos e leva suas águas para territórios de Nanã

E Nanã adentra as águas doces grandes de Yemanjá

E as águas de rios de Osun: irmã mas nova das duas

Olocum, Yemanjá, Nanã e Osun olocupretam territórios sobre a Terra de Onilé: a quem Olodumaré deixou o governo dos territórios de Ayé, a Terra.

 

OBRAS INSTALADAS NA EXPOSIÇÃO POÉTICAS DAS

ÁGUAS



Deusa Attie - peça produzida em cerâmica



                                                                                                    
Oxum - Osun sobre o Rio Escondido



                

Bará e elementos





Sobras que não irão para as águas sessão 1




Sobras que não irão para as águas Sessão 3

Esta obra chega a 3 metros de cumprimento, por isso as imagens foram capturadas por sessão. Ela foi instalada entre duas grandes malaleucas. Uma árvore originária da Austrália, que possui um tranco com uma casaca bem macia. Suas folhas produzem um óleo maravilhoso, com várias substâncias terapêuticas.









Yabás 

Esta obra tem Olocum, Yemanjá, Onilé, Oxum e elementos de várias Yabás. As Yabás são as grandes mães do povo negro de origem iorubana (nagô) por origem, ou na diáspora, por adoção.

As obras foram produzidas com diversas técnicas de trabalho como costura, colagem, emendas, bordado, crochê, etc.

Há componentes nas obras que foram produzidos na arte da costura que cuida de detalhes como mimos produzidos com fuxicos coloridos, babadinhos produzidos com rendas, fluflus coloridos de lãs e de linhas.

Na obra Yabás existe uma denúncia do que seja a apropriação cultural. Qual não foi minha surpresa ao encontrar no calcadão da cidade a estampa de uma capulana africana numa sacola de muamba feita de plástico.
a sacola estaa com defeito e então consegui adquiri-la por um preço módico para outra Ocupação Artística e sobrou retalhos. Produzimos bonecas Abayomis com as capulanas originais e as dispusemos próximas ao plástico da sacola de muamba.









quinta-feira, 23 de novembro de 2023

 CARRO AFRO


Era somente um corsinha já bem rodado. Cuidamos muito bem dele. O motor recebeu um bom trato, algumas peças internas foram trocadas, assim como locais com trincos receberam reparos. As capas dos faróis foram trocadas e as borrachas do para-brisas também foram trocadas. As bases em metal foram pintadas.

O plano de pintar um carro nasceu com a pesquisa sobre as Mulheres Negras Artistas. A inspiração de Mama Esther Mahlangu da África do Sul foi decisiva. Ela nasceu em 1935, na comunidade Ndebele, que está no território conhecido como África do Sul. Na tradição Ndebele a mãe ensina a filha a pintar à mão livre há muitas gerações. Para casar a menina precisa já ter aprendido a pintar sua casa com as tintas da natureza de seu entorno. Há pouco tempo estas mulheres incluíram a pintura com tintas comerciais.


Em 1989, Mama Esther participou de um evento com artistas do mundo todo, em Paris, chamado, Mágicas da Terra, onde pintou edifícios públicos com a arte de sua ancestralidade. Depois foi convidada a pintar carros chiques. Ela usa tintas de vinil de alto contraste na pintura de carros.

Durante mais de 10 anos acompanhei e estudei os traços de Mama Esther, mas não só. Arthur Bispo do Rosário, El Anatsui, Sonia Gomes, Ayeola Moore, Nene Surreal, Mickalene Thomas, Rosana Paulino, Renata Felinto, Barbara Chese Riboud, Lena Martins e outras mulheres da cooperativa Abayomi estiveram presentes em várias fases da minha pesquisa.


Com certeza a ousadia de Arthur Bispo do Rosário foi o que mais me animou na produção do carro Afro. Eu me questionava: Quais tintas utilizar? Quais técnicas seriam necessárias para o interior do carro e quais técnicas seriam necessárias para o exterior do carro?

As pesquisas apontavam para tintas caras e processos industriais de pintura e a gente que é da periferia e pobre não tem condições de pagar pintura cara. Então o jeito foi experimentar. Usei várias tintas na pintura do metal, desde tinta a óleo para pintura de tela (a base de óleo), até tintas PVA a base de água.

pintura a tinta óleo, com retoques em tinta PVA - acabamento em verniz spray





símbolo adinkra Aya produzido com carimbo (tinta a óleo, retoque com pincel Posca) - as sementes da samambaia foram feitas com tinta acrílica em pasta


na parte traseira outra Aya com tinta relevo dimensional brilhante metálica



Aqui usei tinta acrílica no amarelo, spray em lata em azul, amarelo, vermelho e o carimbo com preto Fafanto é com Betume da Judeia - No pegador usei tinta PVA Metal Ferro



As calotas foram pintadas em duas etapas com tinta spray  em lata, vermelha, protegendo os parafusos
A parte  em plástico foi colorida com tinta PVA brilhante

onde houve um dia o logo do Corsinha fiz esta peça com a tampa do vidro de requeijão

Em alguns locais a lataria do carro estava bem enferrujada. Usei lixa de metal e depois de uma pintura de base com tinta spray ou PVA apliquei massa Epoxi. Colori e fui aplicando contas, búzios africanos e nacionais e outras pecinhas que ganhamos. Temos potes e potes com sobras de diversos carnavais, procissões para Nossa Senhora e das festas de Orixás de Candomblés, Umbandas e outras manifestações. Tem conta azul de Nossa Senhora ao lado das contas de Exu. Tem sobras das roupas de Oxalá, com espelhinho de Osun. É um Xirê.


As capas dos bancos do carro





Tirei as capas e lavei. Depois remendei onde precisava e coloquei os amarrios que soltaram. Aí fui rever o livro com o trabalho de Sônia Gomes, que usa muitos tecidos na confecção de suas obras de arte. Compus a capa do banco com sacolas já produzidas pela minha irmã Lena e muitos fuxicos já prontos. No centro coloquei um porta papel que desmanchei. Depois apliquei bonecas Abayomis.

Nos bancos da frente apliquei tecido africano, conhecido como capulana,  na parte do encosto e assento.



A parte de trás da capa tem um símbolo adinkra colorido, sobre o tecido pintado.

No caso a pintura acelerou bastante o processo de afrocentrar o carro, pois se fosse para bordar todas as capas haveria necessidade de muito mais tempo de trabalho.


A traseira do carro

Sankofa em tinta acrílica em bastão, pote e PVA

Ayla em tinta relevo




Há vários detalhes para serem trabalhados no carro, mas penso que já consegui desenvolver várias técnicas para pintura em carro e para a decoração externa e interna. Olhando as obras em tecido Bakuba também penso em utilizar a tecelagem e o colorido natural nos tecidos para produção de capas internas em veículos.

Este projeto ainda será replicado em cursos de formação para pessoas que queiram aprender a pintar suas bicicletas, motos ou carros.

Quando eu disse que iria pintar um carro, uma amiga minha pensou que era um carro de brinquedo. Ele anda pelas ruas da cidade de Presidente Prudente e já estivemos em Assis, com olhares e muito atentos e várias perguntas da curiosidade humana.

Quer aprender?

Vem para o Mocambo.