segunda-feira, 22 de março de 2021

 

ARTE MALUNGA 2º ATO – 2ª LIVE

Ivonete Alves e Natália Mota

“Olá malungada!

E aí, bora conversar sobre ARTE PRETA?

Para continuar nossa série de lives, a nossa segunda convidada é a artista MOTA!

Natural da Cidade Tiradentes, extremo leste da cidade de  São Paulo, é Artista Visual, Grafiteira, Educadora e Ilustradora. Suas ações permeiam Espaços Culturais, Escolas e circuitos interestaduais de Arte Urbana.

Suas produções e pesquisas partem da produção artística negra nas Artes Visuais.

Nesse encontro, vamos falar sobre processos criativos, arte produzida por mulheres negras, reconhecimento artístico e processos educativos.

E aí, vem com a gente?”

 

Este convite foi estampado nas redes sociais, juntamente com um cartaz convidando para a Live.

 

 

  Natália é Artista visual, grafiteira na fábrica de Cultura do Jaçanã.

 

Natalia Mota fez sua construção como artista desde criança sob a influência da família. Seu pai é artista plástico vindo da Bahia e não conseguiu sobreviver da arte, tendo que buscar outras fontes de renda para sustentar a família. Ela cursou Artes Visuais na Unesp de Bauru. A avó fazia bonequinhas com casca de melancia.

 

Saindo da faculdade dedicou-se ao  grafiti e à arte-urbana, produzindo projetos onde as mulheres negras estão sempre em cena. Crianças, velhas, garotos negros encontram-se em imagens anúncios.


 



“É do nosso ventre que saiu o sangue que está sendo jorrado!” Ivonete Alves

 

 

Através de materiais como tinta látex, spray e corante utilizaremos técnicas como o stencil, lambe-lambe, bombs, throw up, realismo, desenhos de observação e muito mais, usando referências de filmes, entrevistas, visitas à espaços de Arte e exploração da própria rua. Sejam bem-vindos!

 



Questões que levantamos durante a LIVE:

Como é ocupar este espaço no Movimento de Rua?

começou em 2016. Uma luta constante, diária para que as vozes das mulheres estejam escritas pelas paredes.  Uma amiga convidou para grafitar. Na cidade Tiradentes, um dos maiores conjuntos habitacionais da América Latina. Meninas não podiam ir pra rua. Pedimos um muro para pintar e a amiga disse que a gente aprende na prática. Compraram tinta. No bairro José Bonifácio em São Paulo foram pedir muro para grafitar e os olhares e falas foram duros e de negação. Mulheres mais velhas já estavam na cena há muito tempo, mas Natália disse que não conheciam estas mulheres.

Atravessamentos que dificultam a participação feminina nas artes: seu próprio almoço, ou a limpeza da casa? Esta questão acaba dificultando o trabalho artístico das mulheres. A atuação feminina mulher e mão estão ainda como fatores que impõem outras formas de atuação na cena artísticas.

 




A Live rolando:

Fabiana Alves: Rainha da pergunta: o que você acha de mulheres não negras recebendo reconhecimento com o grafite e as mulheres negras não! Apropriação cultural?

Natália: Injusto a questão da remuneração. Grande oportunismo! Por que as mulheres negras não têm este espaço.

Todas as vezes que aparecem oportunidade para pintar corpos negros, os artísticas brancos repassam o recurso para as artistas negras?



                  Acima: Obras de Natália Mota 



Ivonete

“Na verdade, é a branquitude que decidiu não compartilhar com a gente o recurso que é também  de base negra, afrocentrada, proveniente de Àfrica.

O projeto político das mulheres negras é pra todo mundo. Não é a branquitude que vai construir um projeto político pra toda a humanidade, porque teve os últimos 2 mil anos para fazer isto e não quis. Escolheu pilhar, matar, escravizar, perseguir e destruir as alteridades que encontrou no seu caminho de produção organizada de necrofilia.

 

As escravizadas que construíram  todo o capital deste país economizando para o futuro, conseguirem em meio a todo caus, pensar no futuro e poupar para que as gerações seguintes pudessem ter com que construir um projeto de verdadeira liberdade. Os homens negros foram usados como máquina de reprodução, tiveram um processo genocidada de sua identidade originária e uma psiquê completamente aviltada durante séculos de aprendizado de negação da possibilidade de constituição de suas famílias negras. Este processo perdura e tem sido um dos grandes desafios do Movimento Negro pensar em possibilidades de resstruturação das identidades negras e suas masculinidades.

 

Existe uma branquitude consciente dos seus privilégios e com parcerias fantásticas, com a qual a gente pode contar. Ainda é excessão!

O que ainda gere as atitudes vigora no projeto de destruição.”


Minhas reflexões a posteriori

Minhas palavras para quem assistiu a Live no momento ou depois ecoaram com muita firmeza. Durante milênios o povo negro não podia escancarar o projeto de morte que nasceu da branquitude, inclusive reverberando com muita intensidade nos corpos negros. Corpos negros transvetidos e gays são os mais atingidos por este Projeto de Morte. Corpos jovens são alvos constantes do mesmo projeto.

Acontece que o efeito colateral também impacta a sociedade como um todo. Arte Malunga traz momentos de alento com uma produção artística que escolhe a vida. Um projeto mulherista ameafricano. Ameafricano é termo de Lélia Gonçalez. A nossa resposta  às situações de racismo estrutural são atitudes práticas. Já temos dados e diagnósticos em todas as áreas. Então é preciso agir com propostas factíveis e ousadas. Somos nós por nós mesmas. Sempre foi assim. Desde antes do período de escravização institucionalizada até o atual continuum escravocrata, transvestido em processos democráticos.

 

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário