ARTE
MALUNGA 2º ATO – 2ª LIVE
Ivonete Alves e Natália Mota
“Olá
malungada!
E aí,
bora conversar sobre ARTE PRETA?
Para
continuar nossa série de lives, a nossa segunda convidada é a artista MOTA!
Natural
da Cidade Tiradentes, extremo leste da cidade de São Paulo, é Artista Visual, Grafiteira,
Educadora e Ilustradora. Suas ações permeiam Espaços Culturais, Escolas e
circuitos interestaduais de Arte Urbana.
Suas
produções e pesquisas partem da produção artística negra nas Artes Visuais.
Nesse
encontro, vamos falar sobre processos criativos, arte produzida por mulheres
negras, reconhecimento artístico e processos educativos.
E aí,
vem com a gente?”
Este convite foi estampado nas redes sociais, juntamente com
um cartaz convidando para a Live.
Natalia Mota fez sua construção como artista desde criança
sob a influência da família. Seu pai é artista plástico vindo da Bahia e não
conseguiu sobreviver da arte, tendo que buscar outras fontes de renda para
sustentar a família. Ela cursou Artes Visuais na Unesp de Bauru. A avó fazia
bonequinhas com casca de melancia.
Saindo da faculdade dedicou-se ao grafiti e à arte-urbana, produzindo projetos
onde as mulheres negras estão sempre em cena. Crianças, velhas, garotos negros
encontram-se em imagens anúncios.
“É do nosso ventre que saiu o sangue que está sendo jorrado!”
Ivonete Alves
Através de materiais como tinta látex, spray e corante
utilizaremos técnicas como o stencil, lambe-lambe, bombs, throw up, realismo,
desenhos de observação e muito mais, usando referências de filmes, entrevistas,
visitas à espaços de Arte e exploração da própria rua. Sejam bem-vindos!
Questões
que levantamos durante a LIVE:
Como é ocupar este espaço no Movimento de Rua?
começou em 2016. Uma luta constante, diária para que as vozes
das mulheres estejam escritas pelas paredes.
Uma amiga convidou para grafitar. Na cidade Tiradentes, um dos maiores
conjuntos habitacionais da América Latina. Meninas não podiam ir pra rua.
Pedimos um muro para pintar e a amiga disse que a gente aprende na prática.
Compraram tinta. No bairro José Bonifácio em São Paulo foram pedir muro para
grafitar e os olhares e falas foram duros e de negação. Mulheres mais velhas já
estavam na cena há muito tempo, mas Natália disse que não conheciam estas
mulheres.
Atravessamentos que dificultam a participação feminina nas
artes: seu próprio almoço, ou a limpeza da casa? Esta questão acaba
dificultando o trabalho artístico das mulheres. A atuação feminina mulher e mão
estão ainda como fatores que impõem outras formas de atuação na cena
artísticas.
A Live
rolando:
Fabiana
Alves: Rainha da pergunta: o que você acha de mulheres não negras recebendo
reconhecimento com o grafite e as mulheres negras não! Apropriação cultural?
Natália:
Injusto a questão da remuneração. Grande oportunismo! Por que as mulheres
negras não têm este espaço.
Todas as vezes que aparecem oportunidade para pintar corpos
negros, os artísticas brancos repassam o recurso para as artistas negras?
Ivonete
“Na verdade, é a branquitude que decidiu não compartilhar com
a gente o recurso que é também de base
negra, afrocentrada, proveniente de Àfrica.
O projeto político das mulheres negras é pra todo mundo. Não
é a branquitude que vai construir um projeto político pra toda a humanidade,
porque teve os últimos 2 mil anos para fazer isto e não quis. Escolheu pilhar,
matar, escravizar, perseguir e destruir as alteridades que encontrou no seu
caminho de produção organizada de necrofilia.
As escravizadas que construíram todo o capital deste país economizando para o
futuro, conseguirem em meio a todo caus, pensar no futuro e poupar para que as
gerações seguintes pudessem ter com que construir um projeto de verdadeira
liberdade. Os homens negros foram usados como máquina de reprodução, tiveram um processo genocidada de sua identidade originária e uma psiquê completamente aviltada durante séculos de aprendizado de negação da possibilidade de constituição de suas famílias negras. Este processo perdura e tem sido um dos grandes desafios do Movimento Negro pensar em possibilidades de resstruturação das identidades negras e suas masculinidades.
Existe uma branquitude consciente dos seus privilégios e com
parcerias fantásticas, com a qual a gente pode contar. Ainda é excessão!
O que ainda gere as
atitudes vigora no projeto de destruição.”
Minhas
reflexões a posteriori
Minhas palavras para quem assistiu a Live no momento ou
depois ecoaram com muita firmeza. Durante milênios o povo negro não podia
escancarar o projeto de morte que nasceu da branquitude, inclusive reverberando
com muita intensidade nos corpos negros. Corpos negros transvetidos e gays são
os mais atingidos por este Projeto de Morte. Corpos jovens são alvos constantes
do mesmo projeto.
Acontece que o efeito colateral também impacta a sociedade
como um todo. Arte Malunga traz momentos de alento com uma produção artística que
escolhe a vida. Um projeto mulherista ameafricano. Ameafricano é termo de Lélia
Gonçalez. A nossa resposta às situações
de racismo estrutural são atitudes práticas. Já temos dados e diagnósticos em
todas as áreas. Então é preciso agir com propostas factíveis e ousadas. Somos
nós por nós mesmas. Sempre foi assim. Desde antes do período de escravização institucionalizada
até o atual continuum escravocrata,
transvestido em processos democráticos.
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