História das Abayomis
no Mocambo APNs Nzinga Afrobrasil
Uma versão de Ivonete
Alves
Dizem que em alguns navios negreiros (ou tumbeiros) eram
transportadas “cargas especiais”, do tipo meninas de carnes roliças, mulheres
para serem parideiras-amas-de-leite, e crianças pequenas para crias de dentro,
uma espécie de bichinhos de estimação das crianças filhas de senhores de
escravizados.
Para que revoltas não fossem organizadas dentro desses
navios negreiros, os traficantes de escravos que serviam ao Brasil,
habituaram-se em separar suas famílias originais e até mesmo pessoas dos mesmos
grupos étnicos. Falando línguas diferentes (sem saberem as línguas de viagens,
porque não eram comerciantes de rotas), alguns de grupos rivais até no campo de
batalha no território africano; o laço apertado da escravização segurava alguns
impulsos. As crianças pequenas choravam muito e as mulheres com as tetas
vazando o leite precioso de suas crias, deixadas para morrer no solo africano
(quando não havia ninguém interessado nas criancinhas pequenininhas, transformadas
em pequenos pacotes de carnes macias para os felinos) também choravam
desconsoladas, até que o choro das criancinhas pequenininhas traziam as
mulheres de volta à vida, que seguia pulsando e em um gesto de consolo mútuo,
as que traziam as capulanas sobre sua pele negra, rasgavam com os dentes
fortes, tiras de suas vestes, e dando nós apertados faziam bonequinhas.
Estas bonecas de nós, com o corpo preto como ébano, são até
hoje vestidas com tecidos coloridos, chegando aos nossos dias como abayomis,
que em yorubá (não se sabe ao certo) significa “encontro precioso”.
As abayomis tornaram-se então, no Brasil, um símbolo de
força e coragem, da arte que brota da dor para colorir, perdoar e encher de
esperança o povo negro desse país.
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