Cerâmica
Ancestral – aulas 03 e 04
Na aula 01 tivemos um
contato inicial com a produção de massa cerâmica: uma mistura de barros para
produzir uma massa que suporte a queima ancestral, sem rachar.
Estamos denominando
queima ancestral a realizada com madeiras naturais, com a ajuda de galhos finos para aumentar a
temperatura da queima, do meio até as etapas finais do processo. Este tipo de
queima teve uma ampla difusão, em todas as partes da Terra e vários povos
criaram suas formas de queimar ou cozer o barro, transformando suas
propriedades.
Nesta aula vamos
modelar uma peça fundamental na cultura afro-brasileira que é o Exu ou a Pombagira.
Primeiro modelei os Exus e já na minha primeira queima, em respeito à minha
ancestralidade, modelei um Exu. Aos poucos fui me perguntando por quais razões
não tinha criado e modelado uma Pombagira e então fui modelando uma orixá Pombagira.
Minha intenção é também oferecer uma oportunidade de relação de afeto positivo
com estas entidades do Candomblé e da Umbanda tão pouco compreendidos e usados
para ofender o povo preto e suas
iconografias de fé, que também são fundamentais para quem trabalha e pesquisa
as iconografias de matriz africana no Brasil.
De qualquer maneira, as
pessoas que mais se interessam por estas peças são as filhas e filhos de fé das
religiões de matriz africana.
Peço licença aos meus
mais velhos e mais velhas para compartilhar o que aprendi com minha ancestralidade
e ensinar um pouco da modelagem destes seres de nossa proteção.
Modelando
um Exu ou uma Pombagira
Nossa primeira tarefa
será fazer uma bola de papel, prendendo bem com um barbante ou linha. A bola
pode ser feita com papel machê e seca ao
sol, ou mesmo em local coberto. Lembre-se que a bola deve ser menor que a
cabeça do Orixá. Então para confeccionar uma peça com uns 12 cm de altura,
faremos uma bola com no máximo 2,5 cm de raio.
Veja abaixo alguns
modelos de bolas de papel para fazer as modelagens em cerâmica:
A próxima etapa é bater
e preparar a massa cerâmica, como ensinamos na aula 1.
Recubra a bola de papel
com a massa cerâmica, deixando massa suficiente para modelar a boca, os olhos e
a cabeça da peça. Vamos modelar somente o rosto, pois fazer uma peça com
membros neste momento é mais difícil.
Tanto o Exu, como a
Pombagira que modelo possui chifres “móveis”,
pois foi desta forma que estas entidades se presentaram à minha percepção, já
que são trabalhadoras e trabalhadores de proteção, em situações onde a
aparência “bruta” se faz necessária.
Na peça acima já deixei
a massa no jeito de modelar os detalhes da pele, dos olhos, boca, orelhas e
chifres.
Montada esta etapa
basta que, com paciência, vá modelando os olhos, boca e outras detalhes da
peça. Caso não consiga finalizar a modelagem, guarde a peça com uma chuviscada
de água, em embalagem de plástico e continue modelando no dia seguinte. Evite que
entre ar de fora, senão a peça seca e aí não é possível mais continuar
modelando. Ainda será possível esculpir a peça, mas é muito mais trabalho e
exigirá uma boa ferramenta de corte.
A peça final deve estar
mais ou menos assim:
Este Exu já foi
queimado e decorado com sementes e búzios, além do uso de uma tinta em relevo. A
Pombagira que fiz, acrescentei o cabelo e uma cor nos lábios.
Paper
clay
– argila com papel ou com fibras naturais batidas em liquidificador
Esta mistura pode ser
usada quando a pessoa tem pressa para fazer uma peça e quer queimar logo.
Bata metade de argila
com metade de papel jornal ou massa de papel já pronta no liquidificador. Deixe
escorrer ou aperte bem para retirar o excesso de água. Vá secando a massa em
uma base de gesso ou sobre tecidos velhos até conseguir uma boa consistência.
Para este processo é bom deixar o papel de molha na água um dia antes. Estando bem hidratado, o papel vai bater mais fácil e produzir uma massa de modelagem mais homogênea.