quinta-feira, 25 de setembro de 2025

 

MÃOS NEGRAS COM GAIA: PERCURSOS – 2025 – Assis/SP

Ivonete Aparecida Alves - Artista plástica - Agbá do Mocambo Nzinga

 


Uma das primeiras obras com a técnica da Kizombagem





Introdução

A concepção desta Exposição reflete parte de meu percurso como artista, me forjando através do contato com minha ancestralidade negra,  levando em consideração alguns pressupostos de trabalho, até chegar na criação da técnica da Kizombagem, gestada no útero de várias outras artistas negras e também com a semeadura de homens artistas do Brasil e da diáspora Alkebulana[1]. Para que fique evidente o que é a Kizombagem vou já trazer a definição que elaborei sobre esta técnica de produção artística, conceituada por mim.

 

KIZOMBAGEM: A GÊNESE DE UMA TÉCNICA ARTÍSTICA NO COLETIVO

 HISTÓRICO

A base para a criação dessa técnica artística é o reaproveitamento e a reciclagem de materiais. Então este histórico está bem articulado com minha história de vida e também com os locais onde atuei como técnica em agropecuária e como educadora ambiental. Também defendi uma monografia na Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design  - Câmpus de Bauru em 1993, denominada Metodologia da Elaboração de Subsídios para Comunicação em Agricultura Natural, onde narrei parte do percurso da pesquisa com Educação Ambiental na Delegacia de Ensino de Garça onde trabalhei de 1989 até 1994.

Parte deste tempo prestei serviço na Secretaria Estadual do Meio Ambiente, atuando na Estação Ecológica dos Caetetus (Gália, Lupércio, Alvinlândia) nos anos 1990. Na  antiga Febem  como educadora ambiental de 1998 até 2001.

Durante todos estes anos estive envolvida na criação e recriação de técnicas de reciclagem, reaproveitamento e de exercícios didáticos para a formação de professoras. O foco em outras pessoas não envolvidas em instituições e também artistas em formação, foi um fato desde a criação do Mocambo Nzinga em 2009, já em Presidente Prudente/SP.

Então quando fui convidada para participar com artista plástica na criação de obras para uma Exposição em Presidente Prudente, em 2021, processo chamado Arte Malunga, já estava experimentando a técnica, ainda não nomeada da kizombagem. Em 2022 escrevi um pequeno texto já nomeando e definindo a técnica com alguns princípios de elaboração:

“Etapas da elaboração da kizombagem:

1.        Escolher o que elaborar para pensar o como fazer;

2.        Conhecer os procedimentos necessários para alcançar o resultado estético almejado, usando o máximo possível de materiais de segundo uso, reaproveitados de peças antigas ou adquiridos em brechós, lojas de usados, cooperativas de catadores ou cachambagem;

3.        Saber quais as receitas que respeitam todos os princípios da kizomgabem, inclusive se esforçando para criar novas receitas, à partir de outras experiências artísticas de pessoas negras ou estudando as técnicas de elaboração de suas obras .

Técnicas subsidiárias na produção de arte na kizombagem

1.        Cola com serragem;

2.        Massa colorida de serragem para apliques diversos;

3.        Mistura mágica com papel reciclado;

4.        Pintura com elementos da natureza

5.        Terras para acabamento;

6.         Uso de todo e qualquer material coletado, sobras de colares, colares já usados e descartados, tecidos, vitrilos, sementes, miçangas, tecidos recortados, fuxicos, toalhinhas de crochê,  pequenas máscaras de inspiração étnica aplicadas nas obras, ferramentas de orixás e orixás produzidos em tecidos, cerâmica e/ou papel machê; etc.

Aos poucos o uso de tecido sobrepujou os outros materiais, porque as Bonecas Abayomis estiveram presentes na elaboração de quase todas as obras de arte de 2021 e o fato de possuir exemplos práticos, facilitou o ensino do processo para as outras malungas do Mocambo Nzinga.

Despojaram uma grade na caçamba. Obra de arte. Despojaram um arco com uma base sintética. Obra de arte. Despojaram uma tela enferrujada: base para outra obra de arte. Foi assim elaborada as 24 obras desta Exposição que ficou em cartaz no quintal do Mocambo por alguns anos. A estreia da Exposição foi on-line devido à Pandemia do Covid 19, com uma leitura prévia das obras, produzida por um homem cego, o que possibilitou a descrição de todas as obras da Exposição com esta assessoria.

 

ARTE MALUNGA com despojos

Despojaram uma grade na caçamba. Obra de arte. Despojaram um arco com uma base sintética. Obra de arte. Despojaram uma tela enferrujada: base para outra obra de arte.

 Obra: A KILO roxo



obra e foto Ivonete Alves

 

Esta obra foi produzida sobre uma tela de janeira encontrada numa caçamba no centro de Presidente Prudente. Foram utilizadas 140 abayomis, e tecidos cortados e amarrados no telado. O símbolo adinkra usado foi o Tabono (símbolo da força, confiança e persistência).

 


 Obra em Execução
obra executada

Obra: Fofoo ( fofoo é o nome de uma planta africana, cuja semente tem esta aparência)

Esta obra foi produzida sobre uma moldura de aço encontrada tem muitos anos. Esteve pelo quintal e já serviu de forma para peças em papel-machê. Aqui ela foi preenchida com a tela para galinheiro, presa por tiras de malha. Em seguida foram aplicadas abayomis em torno do contorno do símbolo adinkra. o centro foi preenchido por tiras de malha verde.

O símbolo adinkra Fofoo (símbolo da necessidade de evitar o ciúme e a inveja) foi recortado em tecido de malha, a nossa malunga Alexandra costurou, preenchi com fibra sintética e depois apliquei pedaços de uma saia adquirida em um bazar da pechincha.

 

 

 

As obras da Exposição Mãos Negras com Gaia: percursos

A Exposição terá uma estrutura produzida com caixotes de feira reaproveitados, madeirites, portas reaproveitadas, varais como suporte, mesinhas, carteiras, caixas, etc.

Tambor Bamum

Painel Kizobamgem 1 (suporte aramado)

Painel Kizombagem 2 (suporte aramado)

Painel Kizombagem 3 (suporte aramado)

Máscara capacete Gueledès (sobre caixote ou mesinha)

Butões para paletó, sobretudo e pereline (peça em tecido, pode ser esticada com fio esticado)

 Máscara BWA com pintura de tawás




Peça de inspiração BWA com pintua de tawás



Obras produzidas com tinturas naturais

23 paineis de papel com tintura natural. Obras sobre papel fabriano, gramaturas 160 e 180 (colada e paredes ou outros suporte verticais)

Obras com símbolos adinkras

1-     Owo foro adobe; 2. Okodee MMowere; 3- Nkotimsefo Mpua; 4- Dwenini MMen; 5- Epa; 6 - Ananse Ntontan; 7- Okoko nan; 8- Fafanto; 9 - Funtummireku denkremmireku; 10 - Adinkra Hene  1 e 2;  11 - Odenkyem; 12 - Sankofa sobre frabiano açafrão; 13 -Sankofa sobre fabriano grãos de urucu; 14 - 4 sankofas sobre tintura de angico.

 

Estudos de coloração para fundos e obras

Café em pó com água como solvente

Urucum semente com água como solvente

Hibiscos em pó com álcool como solvente (3 folhas)

Café em pó com álcool como solvente

Açafrão em pó co álcool como solvente

 

Gravura

Uma negra com estilo

Gravura sobre papel fabriano tingido com  café, açafão e urucum                                                  

 

Instalação

Patuá com ninho de guaxo – ( pássaro Japiim das costas vermelhas -  Cacicus haemorhous L) - (o ninho do guaxo sob um vaso de barro queimado, colorido com tawás e com a planta Espada de Yansã mini). Tawás são pedras de pintar trazidas de Minas Gerais.



patuá com ninho de guaxo - instalação


A cabeça de Zumbi (raízes, cipós, sementes, pedras, musgo, pano e um tanto de exercícios de Kizombagem em cascata da cabeça de Zumbi)

Ao lado uma foto com Zumbi menino inteiro no ano de 2009 na Escola Municipal Vilma Alvarez Gonçalves em Prudente.

Cartazes das Exposições anteriores presentes nesta Exposição

Afroparque nós na arte viva – 2024

Ateliê de práticas artísticas: Xirê, arte feminina africana (alkebulana)

 

Cartazes didáticos de formações realizadas pela artista:

Matéria da revista Raça Brasil sobre a criação da boneca Abayomi por Lena Martins.

 

 

As técnicas da Kizombagem

Exercícios didáticos apresentados em cursos e exercícios didáticos de cursistas.

 

 



[1] Alkebulan é o nome genérico do continente africano antes da invasão europeia e da europa subdesenvolver e explorar as pessoas e roubar a riqueza do continente, inclusive o status de humano que o processo escravizatório constituiu e continua alimentando sua existência.

sexta-feira, 27 de junho de 2025

 

Axé

Axé com um mês, a mãe e uma irmãzinha. A mãe não aceitou ele de volta. Tivemos que ficar com ele.

O Axé nasceu dia 22 de setembro de 2024, às duas da madrugada em Teodoro Sampaio no Assentamento Santa Zélia, numa ninhada de 3 filhotes. A mãe dele é daquelas gatinhas bem miúdas, por falta de cuidados adequados e uma fome quase constante. Do tipo animais do tempo antigo, onde sua função não era a de PETS. Gato seve pra caçar ratos e pronto. Daí se não estiverem com fome não vão caçar ratos.

Nós fomos visitar minha sogra e sogro que lá vivem com a família de minha cunhada. Estavam lá de visita de trabalho outra cunhada que reside em Campinas com seu filho mais novo, que tinha 5 anos.

O menino escondeu o gatinho recém nascido na lancheira no início da tarde e fico dentro do carro para vir conosco para Presidente Prudente. Dormiram. Ele n colo da mãe e o gatinho dentro da lancheira. No começo da noite eu até ouvi uns miadinhos, mas pensei que era de algum destes brinquedos que tocam. Perguntei, ele riu e não disse nada. Até que minha cunhada abriu a lancheira para trocar as frutas e encontrou o gatinho, já quase sem forças para miar.

Foi um desespero. Ela entrou em pânico. O menino esbugalhou os olhos, mas tinha certeza que fez a coisa certa. Ele queria um gato.  Pedia muito um gato e daí trouxe o gato!

Peguei o gatinho na mão e ele estava bem desidratado. Fraquinho. Com fome. Com sede e com frio. Aconcheguei no meu colo e fui cozinhar um ovo para preparar um leite com mais proteína. Eu já tinha cuidado de um gatinho abandonado, com os olhos fechados na rua tem mais de 25 anos e o gatinho era do mesmo padrão de cores do Axé, que naquele momento não tinha há nome.

Era domingo, de noite e o único leite que tínhamos era um em pó comum. De qualquer maneira teria que servir. Procurei uma seringa para dar o leite a ele, enquanto o ovo cozinhava. A proporção do leite é a mesma que se faz para crianças pequenas. Para 50 ml de água filtrada e fervida, uma colher de chá de leite em pó.

Usei um copinho daqueles bem pequenos para  fazer a mistura. Já nas primeiras mamadeiras coloquei uma pitadinha de pó de erva baleeira e outra pitadinha de pó de moringa oleífera. As partes vegetais promovem a formação do bolo fecal para que o gatinho não tenha prisão de ventre.


O Axé na Aldeia indígena




A  terceira mãe do Axé; o Ôgho que cuida dele até hoje. Brinca, dá banho, aquece nos dias frios.


Muito relacionada com a alimentação está o processo digestório. No colostro das fêmeas tem todos os anticorpos de proteção da ninhada e quando o mamífero não teve acesso a este leite rico é preciso substituir por ervas seguras, sempre em dosagens mínimas. Outra forma de dar acesso aos preventivos para os filhotinhos é através da massagem.

No caso de gatinhos eles precisam de estímulo para fazer cocô e xixi. É a mesma coisa com cachorrinhos filhotes. Por isso a mãe lambe tanto. A recomendação é de que se estimule o filhote para fazer cocô e xixi primeiro. Nunca deu certo aqui em casa. Então a gente alimenta primeiro e depois estimula o cocô e o xixi, higieniza e coloca pra dormir.


Os equipamentos que salvam!

Eu dou preferência para equipamentos de vidro, mas seringas e mamadeiras de vidro são difíceis de encontrar.


Seringa: usada para dar as mamadeiras. Não é o ideal, porque precisa de muito jeito. Caso aperte muito o êmbolo na hora de amamentar o bichinho, você pode fazer o bichinho engasgar. Assim que for possível compre uma mamadeira com bico de borracha e faça um furinho com uma agulha. O bichinho tem que aprender a conquistar a comida fazendo força para mamar.

Água limpa

Sempre usamos água de poço artesiano para beber, depois de filtrar a água em filtro de barro com velas a carvão.

É importante ter sementes de moringa oleífera para higienizar a água no caso de precisar de água pura. Mesmo com a filtragem, em casos de recuperação da saúde, a moringa faz o papel de purificar totalmente a água.

Outra alternativa é ferver a água e depois esfriar. deixe a água em vasilhas de vidro. plástico são prejudiciais. quanto menos usar é melhor.

 

Lâmpada para aquecer o animal

Animais muito pequeninos precisam de aquecimento externo. Podem morrer de frio. Então a lâmpada ajuda muito. Para regular a altura da lâmpada você coloca a mão e verifique se não está muito quente. Caso esteja com frio o bichinho se treme todo.

Tem alguns lugares que ainda existem as lâmpadas analógicas. Em casas de agropecuária ou cooperativas agrícolas dá pra encontrar. Enquanto  não encontra, use qualquer lâmpada ou abajur. O meu queimou depois de 15 horas ligado e tive que r atrás de um soquete para montar uma lâmpada, improvisando um aquecimento.

 


Aquecimento feito com uma lâmpada fluorescente . Axé com dois dias.

Plantas importantes para saúde animal

Mastruz: repele pulgas

Capim santo: inseticida de amplo aspecto. Calmante, relaxante muscular, sedativo, antisséptico, antibacteriano e analgésico

Pega pinto: cura doenças de pêlo. (Use em quantidades muito pequenas)

Banana de macaco: trata leishimaniose, anti-inflamatório.

Camomila: dá tranquilidade e acalma.

Erva doce: alivia cólicas.

Embaúba: é anti-inflamatória e alivia dor de garganta. Trata qualquer problema respiratório.

Assa peixe: fortalece o sistema imunológico do bichinho.

Titônia: trata distúrbios gástricos e hepáticos.

 

 Oleatos para massagem

Sempre tenho vários. Mas uso nos animais o de capim santo, manjericão, alfavaca, titônia, embaúba e erva de bicho. O de mastruz uso duas vezes ao ano para desvermifugar. Daí todos os seres vivos da casa usam também.


Aquecimento do filhote

Quando muito pequenos, como era o Axé eu uso uma cestinha de bambu, caixa de papelão ou cestinha produzida com palha de milho. Depois coloquei pedaços de um cobertor para ficar macio e trocar caso escape um pouco de xixi. Quando está muito frio o bichinho fica mais vulnerável. É preciso mantê-lo aquecido até durante o tempo de alimentação.

 

                                     Pérola com a cestinha com o Axé dentro

Intervalos das mamadas

O ideal seria a cada 3 ou 4 horas, mas nem sempre era possível. No período da noite ele mamava entre nove e dez horas e depois na madrugada, entre 4 e cinco da manhã. Então ele chegava a ficar 6 ou 7 horas sem mamar. Na verdade o importante era o acolhimento que ele recebia e daí ele dormia bastante. Algumas vezes eu ia amamenta-lo e ele estava dormindo. O sono alimenta tanto quanto a comida física.

 

Cuidados compartilhados

Tive  ajuda de algumas pessoas para cuidar dele em algumas ocasiões. Meu marido aprendeu a dar mamadeira para ele e a Tereza, vez ou outra limpava o ninho dele. Tive que carregar o Axé pra todo lugar onde fui em novembro de 2025. Dois eventos na FCT Unesp, um em Ourinhos e também em Garça ele foi comigo. Ficamos em um hotel em Ourinhos que tinha gatos. Foi muito legal chegar lá e já encontra felinos pelo espaço.


 


A preocupação com as prisões de ventre

Nestas saídas de casa ele ficou com prisão de ventre.  Eu levei as ervas para acrescentar no leite dele, mas mesmo assim era um drama para fazer cocô. O ambiente agidado dos lugares, o fato de não ter os cheiros que ele estava acostumado e muito estímulo na sua rotina alterava o funcionamento da digestão dele. Daí era um tal de massagem e nada. No fim ele ficou mais de um dia sem faze cocô. Quando estava na estrada indo de Ourinhos para Garça, na imineência de uma chuva intensa ele deve dor de barriga e comeou a reclamar. Parei o carro na beira da estrada, entrei em um cruzamento de terra porque a rodovia viscinal quase não tinha acostamento seguro. Foi muita bosta!

Então é preparar água limpa, sabonete, álcool gel e toalhas limpas para carregar. Uma malinha como se faz para os bebês humanos em tamanho menor.

Como eu estava sozinha eu arrumei uma caixa de papelão muito funda para colocar no carro. Ele já saia do ninho sozinho e é um perigo dirigir preocupada com um filhote. Mesmo reclamando  ele não poda sair da caixa sozinho.

Resposta do gato aos cuidados

Eu fiquei com o coração da mão no  segundo dia de vida do gatinho. Ele ainda não tinha nome. Deixei para nomeá-lo depois de 7 dias. Era preciso ver se ele iria sobreviver. Na segunda feira ele ficou muito molinho. Respirava com dificuldade e o abajur  que o aquecia deu curto circuito e não teve conserto. Eu já estava cuidando das galinhas, um parque, uma casa, um monte de trabalho com prazos para cumprir, um quintal com muitas árvores e um demanda enorme de editais para escrever, além de coordenação e produção de exposições e projetos para novembro.

E o gato mole, respirando com dificuldade. Fiz o  que sei fazer. Cantei pra ele. Fiz massagem. Soprei energia no ouvidinho dele e pedi ajuda aos guias espirituais. Quando meu marido chegou  da escola fomos atrás do leite especial. Que pancada no bolso. Muuuuito caro!! Cento e sessenta e seis reais, 400 gramas de leite. Só compramos desta vez, depois já compramos o leite para crianças humanas bem mais barato. Daí o Fase Um da fórmula humana serviu.

Assim que consegui arrumar a nova lâmpada para aquecê-lo e ele mamou a fórmula para felinos ele já melhorou. Parece que o fato de ficar sem aquecimento é determinante na sobrevivência dos filhotes.  Além, é claro de não ter recebido todas as defesas que o leite materno possui.

Assim, ele foi acostumado a ouvir música. Assim que melhorou e ficou mais espertinho ele foi apresentado aos outros gatos. Nós já tínhamos seis gatos em casa. Ôgho é um gato grande que tem vocação para mãe. Cuidou do Nédio, um amarelinho que veio embaixo de um caminhão de combustível que estaciona na rua do lado da nossa casa. Ficou lá miando feito um doido de madrugada e não resisti e fui atrás do choro. Ele demorou  pouco para se interessar pelo filhotinho, mas ficaram muito amigos depois.

Quem acabou cuidando do Axé foi o Ôgho mesmo. Por mais que a gente limpe, quando começam a comer sólidos, o cocô fede muito. Incrível como os outros felinos conseguem acabar com o fedor lambendo. Por isso precisam de vermífugos, senão ficam contaminados com vermes. E agente também precisa de vermífugos e uma higiene de tudo e de todo mundo na casa.

Inclusive o equilíbrio espiritual é fundamental para que a casa não adoeça com as situações de chegada de um filhotinho, que no começo  só dá preocupação e despesa. Isto é real. Tive que abrir mão de várias coisas que precisava para pagar as despesas do gatinho.

Também é importante estudar para não cair nas armadilhas da onda de cobrar mais caro pelo cuidado com os PETs do que com o cuidado com humanos. Um absurdo a fórmula do leite para gatos custar mais caro do que o leite para humanos filhotes!

A minha preocupação era muito intensa. Tanto quanto e preocupo com as outras vidas. No caso de filhotinhos o coração da gente fica cheio de medos, como se fosse uma criança mesmo.  Os felinos em casa quase não miam. Só para “conversar mesmo”. Eles não reclamam, porque a gente prevê suas necessidades. Tem várias vasilhas com água espelhadas pela casa e no quintal. São trocadas mais de uma vez por dia. As vasilhas de ração são muitas e ficam no alto, onde os felinos podem comer sem a disputa com os cachorros, que adoram comida de gato.

Cozinho comida com plantas medicinais e carne e é raro que fiquem doentes. De maneira geral só quando algum cachorro de rua ataca e precisam fugir. O Igbin pensa que todo bicho é amigo e já levou alguns sustos e mordidas de cães em situação de rua. Ele é muito manhoso e mia para ganhar colo ou para descer do telhado que ele sabe muito bem como descer. Só mia para chamar a atenção e a gente colocar a escada para pegá-lo no colo.

O Axé ganhou muita atenção e ficou um gatinho muito seguro de si. Ele gosta de passear de carro e fica chateado quando não posso sair com ele. Vai tomar sol na calçada, mas passa a maior parte do tempo dentro do quintal. Gosta de brincar com a cachorra. Não tem medo algum nem do galo índio que é muito bravo!!

 


 Ele foi castrado com três meses. A gente considera que existem já vários gatos e é muito complicado cuidar de tantos, mesmo a gente adorando! Enquanto escrevo ele dorme na caixa olhando para o Ôgho que hoje está dormindo sobre o baú. 

 

quinta-feira, 19 de junho de 2025

 

Ciência Ativa na Produção das Bonecas Abayomis

Autora: Ivonete Aparecida Alves - Mocambo APNs Nzinga  Afrobrasil - Arte - Educação - Cultura

Encontro Precioso Com Lena Martins e Afropira – Piracicaba/São Paulo


 Boneca Abayomi produzida na oficina com Lena Martins na AFROPIRA  em 14 de junho de 2025


A genial imaginação de posicionar bonecas abayomis estruturadas em ambientes históricos no Rio de Janeiro - Obras de Lena Martins:


 




 “AFROPIRA - Coletivo que fomenta a Cultura Afro-Brasileira” na cidade de Piracicaba/São Paulo promoveu no sábado, dia 14 de junho de 2025, um encontro entre bonequeiras do estado de São Paulo, com a presença ilustre de Lena Martins, a criadora da boneca Abayomi.

Confesso que somente estando lá é que entendi a complexidade do encontro,  que acabou influenciando nas muitas dúvidas que tivemos antes do encontro. Um pequeno grupo de pessoas, na sua maioria mulheres com uma enormidade de tarefas para realizar. Literalmente elas cantam, dançam, tocam, limpam, cozinham, cuidam de filhos e outras crianças e adolescentes e ainda organizam os eventos, que são muitos e acontecendo no mesmo período de tempo.

Recepção calorosa  - Érica da Afropira


Eu daqui do Mocambo Nzinga precisei viajar duas noites seguidas, o que fica muito desgastante, levando em  consideração que Presidente Prudente está bem na rabeira do Estado de São Paulo, perto do Paraná e do Mato Grosso do Sul, no Pontal do Paranapanema e Piracicaba já na região de Campinas, bem mais próxima a capital do estado.

Ainda assim, mantive a alegria por compartilhar saberes com outras mulheres negras que mantém uma luta intensa em suas comunidades originais, além de se fazerem presentes em outras localidades fortalecendo a luta coletiva, sempre muito importante na nossa vida afrocentrada.

A metodologia do encontro teve forte influência da própria metodologia de Lena Martins ensinar as técnicas que aprendeu: convidando as pessoas a criarem suas bonecas enquanto narra a maneira como conseguiu criar a boneca abayomi, uma boneca sem cola e sem costura, que utiliza o mínimo de equipamentos.

Esta forma de ensinar e aprender está no bojo da ciência afrocentrada, pois há além da troca de saberes, um compartilhamento dos sentimentos e de uma ancestralidade em comum. A ancestralidade negra é tributária do Egito Antigo, das ciências ocultas de Ifá e demais culturas antigas que vieram sendo atualizadas, sankofando no presente através dos fazeres coletivos, com cada mulher contribuindo para novas formatações.

 

Um lugar acolhedor



Estamos no grupo de bonequeiras:  Érica, Nathy, Eliana, Eveline, Lúcia Makena, Maria de Sampa, Marcelo Domingos,  Professor Gafanhoto, Marisa Silva, Sandra Helena, Marisa Silva, Sandra Helena, Alice Miranda, ...

 

A Oficina com Lena Martins

Eu já tinha participado de duas Oficinas com a Lena Martins aqui em Presidente Prudente, no SESC Thermas da cidade. Ela trouxe os tecidos pretos e também coloridos para ensinar as bonecas de nós no sábado e no domingo os bebês abayomis.




Ela trouxe um tipo de boneca estruturada produzida com retalhos , mas não houve tempo para produzirmos. Fiquei encantada quando soube que seria esta boneca que ela iria ensinar a gente a produzir.

Material necessário

Malha preta, malha com elasteno, microfibra, malha com poliéster, etc.

Tecidos coloridos

Contas coloridas

Lãs em diversas gramaturas e composições

Produção

Corte muitas tiras de malha preta. Corte também tiras de outras malhas para fazer a parte interna da boneca.

 A Boneca Abayomi estruturada



    

Tocadora de tambor da produção de Lena Martins  

Tudo no trabalho artesanal depende. Então o tamanho de nossa boneca Abayomi também depende. Lena Martins nos mostra um tamanho de malha preta e também uma boneca abayomi já estruturada para que soubéssemos comparar e produzir nossa própria boneca.

Lembrando que Lena Martins apregoa que somente é Boneca Abayomi 

- se for produzida com tecido preto para a aparência d corpo;

2.    - usando poucos instrumentos, no caso somente uma tesoura e talvez um isqueiro para parar o desfio de tecidos de algodão;

3.     -  sem cola e sem costura.


A primeira etapa para fazer a boneca é estruturar a cabeça enrolando uma tira de malha que será o recheio da parte principal da boneca, compondo a cabeça.


Esta base deu origem a uma boneca com a medida de 12 cm de largura por 25 cm de comprimento.


Então começamos com um retalho de malha retangular de aproximadamente 30 centímetros de comprimento por 12 cm de largura. Basta uma régua para determinar o tamanho que você pode experimentar.

Separe também uma tira enroladinha para fazer o amarrio.

Dobre uma parte da base preta maior. Lembre que na dobra ficarão a cabeça. O pescoço e a estrutura dos braços. Para baixo sairão as pernas.

Coloque a bola interna para formar a cabeça e amarre com a tira, arrumando a malha para não ficar muito enrugada na parte da frente da cabeça.

 Aperte o amarrio e dê dois nós.


 

                          Bolinha que coloca dentro da parte correspondente à cabeça para dar o volume

Agora corte de baixo para cima a base preta do tecido para formar as pernas.

 

 


Corte também a parte para formar os braços. Começe o corte palas laterais do tecido. Como precisa de uma pouco mais de comprimento, reparta a parte de cima em dois triângulos e abra para deixar  parte dos braços mais compridas.

 Com as tiras coloridas de malha começe a enrolar pela parte central da estrutura da boneca abayomi apertando bem a base do braço até chegar na ponta. Retorne enrolando até chegar ao centro. Faça o outro braço.


Perceba que fiz um amarrio no joelho da base da boneca abayomi para que ela tomasse o formato de sentar-se

Caso termine a tira coloque outra tomando o cuidado de deixar as bordas bem apertadas na base da estrutura da boneca.

Quando mais grossa você quiser a boneca, mais terá que enrolar tecido na base. Lembre que a última etapa é o tecido preto. Então deixe a boneca com um espaço para usar a malha preta para o acabamento da boneca.

 

Há variações no momento de construir a boneca para dar movimento a ela. Com estas variações  é possível criar uma boneca abayomi capoeirista, tocadora de bumbo, musicista, dançarina, além de todas as Yabás e demais orixás.


Oxum produzida por Lena Martins

Finalizada esta parte é o momento de escolher o gênero da boneca ou a personagem que ela se constituirá.

 

Saias e blusas

No meu processo de elaboração de bonecas abayomis fui aprendendo a fazer saias e vestidos de vários formatos. Na finalização das bonecas que vi várias bonequeiras também usando estas técnicas de produção das vestimentas.

Uma técnica para produzir saias é fazer um círculo, cortando o centro e passando as pernas da base da boneca abayomi pelo orifício no tecido da saia.

Outra técnica é cortar um retângulo e fazer uma franja com as mãos e amarar na cintura. Depois de feito  o amarrio vai-se ajeitando a saia para ficar harmoniosa.

 


Vestidos

As técnicas são as mesmas com um tecido mais comprido.

 

Calças

As calças das bonecas Abyomis são produzidas com dois retângulos. Amarra-se no tornozelo e também abaixo da cintura. Para fazer calças pantalonas, deixa-se a parte da barra sem amarrio, ajeitando a barra na perna da boneca.

As vestimentas de luxo

As roupas dos povos negros  ancestrais e também dos povos de terreiro apresentam uma enorme variação. A roupa com a qual se apresenta em público é sempre uma roupa de festa. N caso dos países onde aconteceu a escravidão, a roupa de luxo é uma forma de resistência, um grito de liberdade e à favor da liberdade, pois o recado é ado pelo ato subversivo de usar o que nos foi proibido durante o processo escravocrata.

 

  


As vestimentas típicas

Representar as diversas manifestações culturais do povo negro estabelecido em diversas regiões das terras de Tupã ou pindorâmicas são também formas de resistência e valorização das ricas culturas existentes por aqui.

No evento em Piracicaba se fizeram presentes várias destas manifestações da cultura afro-brasileira, como o samba de lenço, a capoeira, o maculelê e o samba das escolas de samba.

 

       Que tal um duende negro?

                                   
           Dando mais vida ao amarelo

Muitas vivências ainda ficaram sem comentar aqui nesta postagem. Mas as boas lembranças poderão ser despertadas pelo encontro de tantas maravilhas que o dia nos proporcionou. No período da tarde a música e a dança imperou, com convites irresistíveis para a participação de todas as pessoas.


Grupo Samba de Lenço Piracicaba

Mestre: Antônio Carlos Ferraz

Coordenadora: Ediana Maria de Arruda Raetano

Mestre Ediana é uma mulher incrível, com uma voz maravilhosa e uma presença ancestral que acalenta o coração de quem a escuta.


 A mágica da Ana bailando nas rodas



Estavam presentes também bonequeiras de todo o estado com suas produções para Exposição e Vendas, além de peças afrocentradas com capulanas e estamparias africanas. Em nome e todas agradeço a Makena com um trabalho de muito tempo na caminhada com as bonecas pretas.


Grupo da diretoria do Afropira:

Elaine Teotonio

Erica Lima

Isabel Farias

Nathy Pezzato

Julio Rocha

Ariston Batista

Marcos Farias

 

Bonecas Abayomis – “História, Identidade e Resistência” é um projeto realizado através do Governo Federal, Governo do Estado de São Paulo e Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas, contemplado no fomento CULTSP com recursos da PNAB “Política Nacional Aldir Blanc” de fomento à cultura - (lei nº 14.399/2022) no Edital Nº 39/2024 Fomento a Economia Criativa - Código do Projeto 39/2024-1725.0292.5100

APOIOS: @etcprodutora; @mvfprodutora;  

FICHA TÉCNICA: Coordenação - @nathy_pezzato; Produção Executiva - @caferlimaby; Produção Geral - @elaine_teotonio; Produção Artística - @mestre_marquinho

 AUXILIARES DE PRODUÇÃO: @julio_o_rocha; @aristonbatista; @isabelfariaspsi

 AUDIOVISUAL E FOTOGRAFIA

@paulopretofortunato

 DESIGN GRÁFICO

@rsdigitalagenci

 #Paratodosverem: A imagem captura uma cena dinâmica com um mural vibrante ao fundo cercada por elementos artísticos coloridos. A pessoa em primeiro plano, uma mulher negra, cabelo curto, vestindo uma cacharrel preta, uma camiseta verde, calça jeans e coturno preto, segura um microfone e gesticula como se estivesse falando ou se apresentando — talvez participando de um evento ou encontro cultural.

 #encontroprecioso #afropira #abayomi #cultura #bonecas

 Foto do perfil de lydiabazafro